São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 1997
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Histórias reais do amor virtual

MARIA ERCILIA
DO UNIVERSO ONLINE

Conversa entreouvida no McDonald's -os netinhos dizem para o avô: "Tem um lugar na Internet que dá pra encontrar umas meninas e falar umas sacanagens. Vai lá, você arruma uma namorada!".
Cristiano costumava conversar com Paula numa sala de bate-papo. Papo vem, papo vai, Paula diz num dia de tédio: "Precisamos de uma história para os netos".
Corta para o apartamento de Paula, em Santos. Cristiano, 23, chega de São Paulo e é recebido com mil beijos. "Nunca pensei que uma história dessas fosse acontecer comigo", diz ele (os nomes são fictícios). Despedem-se amigos, dispostos a voltar ao bate-papo sem maiores climas e com uma história para as futuras gerações.
A julgar pelos netinhos do shopping, porém, a descendência de Cristiano e Paula é capaz de bocejar com a história dos dois, de tão acostumada que vai estar com aventuras assim.
Invente uma tecnologia e alguém descobre um uso sexual para ela -como já aconteceu com o videocassete e com o telefone. Na Internet as modalidades são várias -sites de fotos, classificados pessoais, vídeo erótico. O bate-papo, o mais low-tech de todos, é o preferido porque tem gente de verdade aos milhares, dia e noite. A maioria dos frequentadores se confessa viciado mesmo.
"Acho que tem muita carência nessas salas de sexo", diz Gisela Rao, 32, redatora da Ponto.com, uma produtora de sites. Ela escreve contos eróticos e está dando os últimos retoques num site com uma coletânea deles -alguns vão ser interativos, segundo ela.
Ela arrumou paqueras em salas de bate-papo e no Web Personals (www.webpersonals.com), um tipo de classificado pessoal. "Mas agora já me considero uma aposentada do sexo virtual."
Gisela teve três namorados que conheceu pessoalmente, mas não recomenda a experiência. "Acho que tenho algum complexo de Cinderela virtual", diz. "Nesses papos, a fantasia é muita, a pessoa real nunca corresponde ao que você imaginou. Um cara me mandou uma foto em que estava 25 quilos mais magro..."
Desapontada com os namoros que escorregam para a vida real, de vez em quando ela tem umas recaídas de sexo eletrônico. "Procuro material para as minhas histórias. Gosto de entrar de prostituta, de menina virgem, sei lá. Às vezes fico com um cara só porque gostei do apelido dele... Mas uma coisa que não faço mais é falar a verdade, depois de algumas horas de fantasia. Pra quê?"
Já Tatiana, 22, passou da fantasia à realidade sem muito stress. Começou a frequentar bate-papos "para conhecer gente". Conheceu Marcelo Renaud, 35, que estava no bate-papo "à toa", ajudado por um sobrinho, e pulou da Internet para o telefone no terceiro papo. Daí para o altar foram quatro meses. "Muitas pessoas acham uma loucura o jeito como nos conhecemos", diz ela.
O fascínio do bate-papo vem em parte do anonimato e em parte da gratificação fácil que ele dá. Você liga na hora em que quer, sempre encontra alguém disposto a ouvi-lo e cai fora na hora em que quer também. É o sonho dos tímidos e dos solitários. Não é à toa que os netinhos e o avô procuram namoradas na Internet, onde ninguém vai achá-los muito crianças ou muito velhos.
O SecretAdmirer (www.secretadmirer.com) é um site que dá uma mão para quem não se arrisca a um fora nem por correio eletrônico. Funciona assim: você manda uma mensagem anônima para alguém. A pessoa, por sua vez, vai até o SecretAdmirer e manda uma mensagem para alguém que interessae. Quando duas pessoas mandam mensagens uma para a outra, o SecretAdmirer revela a identidade dos dois.

E-mail: netvox@uol.com.br

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