São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 1997
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Araraquara fecha portas para Zé Celso

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor teatral José Celso Martinez Corrêa está impedido de apresentar seus espetáculos na sua cidade natal, Araraquara.
A presidente da Fundarte (Fundação de Arte e Cultura) -órgão correspondente à Secretaria Municipal de Cultura de Araraquara-, Maria Martha Lupo Stella, diz que "não convém" que Zé Celso retorne com algum espetáculo, porque ainda não foi arquivada a acusação contra o diretor.
Zé Celso e os atores Marcelo Drummond, Celso Sim, Alleyona Cavali, Denise Assunção, Cibele Forjaz e Pascoal da Conceição foram acusados de ofender a eucaristia e ritos religiosos em cena de "Mistérios Gozosos", apresentada na cidade em junho de 1995.
Zé Celso afirma que enviou um pedido formal à Fundarte para apresentar a peça "Bacantes" em junho, durante a semana que homenageia seu irmão, o também araraquarense Luiz Antonio.
Leia a seguir trechos da entrevista, realizada por telefone, com a presidente da Fundarte, Maria Martha Lupo Stella.
*
Folha - Por que a Fundarte se opõe à visita de Zé Celso para apresentação de "Bacantes"?
Maria Martha Lupo Stella - Porque ele ainda está com processo, e acho que não devemos criar mais polêmica. No momento eu acho que é melhor abaixar a poeira.
Folha - É o caso de não permitir?
Stella - Não é que não é permitido. Em primeiro lugar, o Teatro de Arena não está adequado. É um espaço muito amplo, que está com problemas estruturais, e estamos pensando em reformá-lo. Independente disso, tem esse problema que já criou tanta polêmica na cidade que eu acho que não convém. Acho que vai criar muito tumulto de novo.
Folha - Mesmo se as pessoas fossem avisadas com antecedência sobre o teor do espetáculo?
Stella - Eu fui contra o que foi feito, chamá-lo (Zé Celso) para ser o réu. Acho que ele foi a vítima também. No momento não é oportuno.
Folha - A sra. acha que acarretaria nova ação judicial?
Stella - Acredito que sim. Nós vamos mexer em uma caixa de marimbondos.
Folha - Dentro da Secretaria de Cultura da cidade, a sra. é quem define o destino dos espaços?
Stella - Não é bem assim. Sou a presidente da Fundarte. Foi a Fundarte que, na administração passada, cometeu esse gravíssimo erro. Acho que, agora que estamos iniciando uma nova administração, acho que vai ser uma polêmica desnecessária. Quem sabe no próximo ano, quando as coisas estiverem mais calmas.
Folha - Mas a sra. não acha que está prevendo uma polêmica que pode nem acontecer?
Stella - Não. Eu conheço Araraquara, eu sei como é.
Folha - A sra. não acha que esta é uma forma de censura?
Stella - Não acho. É uma questão de oportunidade. Acho que agora não é oportuno. Estamos todos envolvidos em reerguer a cultura da cidade. Vamos unir esforços e não voltar a uma polêmica. Porque foi feita uma grande polêmica, e o povo, de uma forma geral, não entende esses meandros da política e do fator censura. Eles (pessoas do povo) vão achar que foi uma provocação da Fundarte.
Folha - Qual a atual política da Fundarte?
Stella - Estamos tentando mostrar que o que aconteceu está morto. Você sabe que trabalhar com cultura é uma coisa muito complicada... Voltar a mexer em alguma coisa que foi tão polêmica e que causou tanto mal-estar para gente enquanto cidade, acho que não está na hora.
Folha - O diretor Zé Celso quer voltar à cidade.
Stella - Ele que me perdoe, mas ele nunca quis vir à Araraquara.
Folha - A sra. assistiu "Mistérios Gozosos" em Araraquara?
Stella - Não, eu não vi.
Folha - Não é um fato a ser considerado que Zé Celso queira participar da semana que homenageia seu irmão (Luiz Antônio Martinez)?
Stella - Não, porque essa semana é a oitava e ele nunca participou, só quando criou a polêmica.

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