São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 1997
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Rainha afirma que pena foi contra MST

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA ENVIADA A PEDRO CANÁRIO (ES)

A tranquilidade de José Rainha Júnior ao final do julgamento em que foi condenado à prisão pela morte de duas pessoas em 89, em Pedro Canário (ES), contrastava com a tristeza e o choro de sua mulher, Diolinda Alves de Souza.
Rainha disse que achou a sentença injusta e que continuará liderando ações pela reforma agrária no país.
"O único crime que eu cometi foi lutar para que cada um de nós possa ter um pedaço de terra, um pedaço de pão, e para que nossos filhos não sejam bandidos. Se isso é crime, vou continuar cometendo este crime", afirmou, durante discurso para os sem-terra que o aguardavam à saída do julgamento.
Aplaudido pelos integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), Rainha entrou num ônibus com a mulher e os advogados e seguiu rumo a Vitória. De lá iria para São Paulo.
Ao final do julgamento, Rainha disse que desconfiou da condenação ao ver a composição do corpo de jurados.
A seguir, trechos da entrevista que o líder do MST concedeu aos jornalistas logo após o julgamento.
(FE)
*
Pergunta - O que o senhor achou da sentença?
José Rainha Júnior - Eu queria dizer à sociedade brasileira que aqui teve um julgamento do movimento sem-terra e da reforma agrária.
Aqui não tem uma pena de 25 anos (na verdade foram 26 anos) para condenar o Rainha, é para condenar a reforma agrária.
Vamos comparecer ao próximo julgamento e vamos conduzir com a sociedade brasileira, que conhece este país e sabe que este movimento procura a Justiça e a igualdade.
O que a gente viu aqui foram os fazendeiros com os votos determinados para condenar.
Pergunta - Qual o efeito do julgamento sobre o MST?
Rainha - Nós saímos daqui fortalecidos, de cabeça erguida, para continuar nossa batalha.
O MST vai continuar denunciando às autoridades competentes, às autoridades internacionais, o cenário que foi montado.
Pergunta - O senhor achava que ia ser condenado?
Rainha - Pelo que nós vimos do sorteio dos jurados, eu não tinha dúvida do resultado.
Pergunta - O senhor vai continuar participando de ações do MST ou vai se resguardar até o próximo julgamento?
Rainha - Eu continuarei na minha batalha, procurando a reforma agrária de forma pacífica, negociando com o presidente da República, os ministros, e assim por diante. Fazer o que eu fiz até hoje.

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