São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 1997
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Sobra dinheiro no mercado

CELSO PINTO

O sucesso do Banco Central na colocação de US$ 3 bilhões em bônus de 30 anos, na semana passada, está provocando uma corrida para emissões privadas. Um total de US$ 1,3 bilhão em eurobônus de bancos e empresas brasileiras já veio a mercado, e mais US$ 1 bilhão foi anunciado para as próximas semanas.
Além do efeito positivo do bônus da República, o mercado já não espera aumentos nos juros americanos a curto prazo. Os humores no mercado costumam mudar rapidamente, mas, sem dúvida, a maré, hoje, é otimista.
A verdade é que sobra dinheiro no mercado internacional para países emergentes. As emissões de títulos internacionais pela América Latina já somaram, neste ano, o recorde absoluto de US$ 28 bilhões, nas contas do banco ING Barings de Nova York. Um banco brasileiro calcula as emissões de bônus pelo Brasil, neste ano, em US$ 7,2 bilhões.
Para ter uma idéia do salto no mercado, em 96 as emissões latino-americanas, em termos brutos, somaram US$ 52 bilhões, segundo o ING. Em cinco meses, portanto, as emissões já chegaram a 54% do total de todo o ano passado e, nesse ritmo, poderão chegar perto de US$ 70 bilhões em 97.
O ano passado, por sua vez, já havia registrado um salto extraordinário. Nos cálculos da Capital Data Bondware, um pouco diferentes do ING, os países latino-americanos emitiram US$ 47 bilhões em bônus em 96 e pagaram US$ 11,7 bilhões em amortizações. Em termos líquidos, portanto, levantaram US$ 35,6 bilhões, mais do que o dobro dos US$ 16,4 bilhões líquidos de 95.
Considerando todos os papéis de renda fixa emitidos pelos países emergentes (bônus, notas etc.), o total chegou a US$ 175 bilhões no ano passado, um salto de 46% sobre os US$ 120 bilhões do ano anterior.
Arturo Porzecanski, do ING Barings, atribui esse enorme salto, no ano passado, à entrada de novos investidores dispostos a comprar esses papéis, especialmente fundos de pensão, seguradoras e fundos americanos de alta rentabilidade ("high yield"). A força dessa demanda adicional ainda está presente no mercado, mas acabará se estabilizando.
A próxima etapa, na opinião de Porzecanski, será a incorporação dos investidores institucionais que podem investir apenas em papéis classificados pelas agências internacionais como "investment grade". O Brasil está perto de chegar a esse patamar, mas ainda não chegou.
Porzecanski, num trabalho recente, alertou para o risco de que o próximo movimento das agências de avaliação de risco em relação ao Brasil pode ser para pior, e não para melhor, em função das incertezas fiscais, externas e das reformas estruturais. A situação de farta liquidez do mercado, de todo modo, minimiza os problemas.
Além de crescer, o mercado está mudando de forma. Desde a crise da dívida em 82, os primeiros papéis que voltaram ao mercado foram os resultantes das renegociações das dívidas, nos termos do acordo proposto pelo ex-secretário do Tesouro americano Nicholas Brady, em 89. Daí levarem o nome de "bradies".
Desde o primeiro Plano Brady, do México, em março de 1990, 15 países já fizeram esquemas semelhantes, que resultaram na emissão de US$ 150 bilhões em "bradies". O ciclo, contudo, virtualmente acabou, e vários países, como México, Filipinas e, agora, Brasil, começaram a trocar os velhos "bradies" por novos papéis.
A consolidação do mercado para países emergentes fez com que, no ano passado, pela primeira vez, o estoque dos novos papéis (bônus e notas), de US$ 175 bilhões, superasse o estoque dos "bradies", de US$ 145 bilhões.
O estoque de "bradies" ainda é grande demais para falar em desaparecimento, mas a tendência de declínio é clara. Em 94, os "bradies" representavam 60,9% dos negócios das instituições internacionais que operam com países emergentes, segundo sua associação (EMTA). No ano passado, a participação caiu para 50,7%.
Desde que surgiram, os "bradies" sempre renderam muito mais do que os papéis tradicionais. Essa distância, contudo, também se encurtou. O que é outra boa notícia para países como o Brasil.

E-mail: CelPinto@uol.com.br

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