São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 1997
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Polícia descobre rota de tráfico tailandesa

DA REPORTAGEM LOCAL

A polícia descobriu ontem uma nova rota de tráfico internacional de cocaína usada pela máfia nigeriana. Em vez de Europa e Estados Unidos, o destino do entorpecente é a Tailândia e a África do Sul.
Em Bancoc (Tailândia), um quilo de cocaína pode ser vendido por mais de R$ 100 mil. Na África do Sul, a mesma quantidade da droga chega a R$ 30 mil.
A polícia estava investigando mais uma remessa de cocaína feita pela máfia nigeriana quando descobriu a nova rota.
A Divisão de Inteligência e Apoio Policial do Denarc (Departamento Estadual de Investigações Sobre Narcóticos) recebeu uma denúncia de que uma mulher loira e estrangeira ia embarcar ontem, às 10h, no Terminal Rodoviário do Tietê (zona norte de São Paulo) num ônibus para o Rio de Janeiro.
Dois investigadores foram ao local e revistaram a sul-africana Jennifer Campbell, 30. A droga foi achada prensada em fundos falsos na capa e na contracapa de um álbum de fotos de um catálogo farmacêutico.
Jennifer ia para o Rio. Lá embarcaria em um avião para Luanda (Angola). De lá, pegaria outro vôo para Harare (Zimbábue). Nesse último país, ela tomaria outro avião, desta vez para Johannesburgo (África do Sul). Só então parte da droga iria para Bancoc.
Jennifer não quis dar entrevista. Disse à polícia que estava no Brasil como turista havia sete dias e que trabalha como representante comercial na África do Sul.
Sobre a droga, afirmou que não sabia o que o álbum continha. Ela disse que recebera o álbum de um nigeriano que lhe pediu o favor de levá-lo a uma outra pessoa que a aguardaria na rodoviária do Rio.
A acusada afirmou que conheceu o nigeriano em São Paulo e que aceitou levar o pacote porque esse é um hábito comum em seu país.
Durante o regime de Apartheid, os negros sul-africanos mantiveram uma espécie de correio informal para escapar à fiscalização do antigo governo racista do país. Jennifer foi autuada em flagrante sob a acusação de tráfico.
"Ela não sabia o hotel em que havia ficado hospedada em São Paulo, não sabia o nome do nigeriano. Mas ela sabia muito bem o que estava levando", disse a delegada Isilda Cristina Vidoeira.
Terminal rodoviário
Segundo a delegada, ao usar o terminal rodoviário, a máfia nigeriana estaria tentando escapar da fiscalização no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (Grande São Paulo). Nos últimos dois anos, a polícia interceptou remessas de droga no aeroporto.
A maior parte delas estava sendo enviada à Europa em vôos com escala na Costa do Marfim.
Perfil
Branca, jovem e com passaporte da União Européia. Esse é o perfil da maior parte das pessoas contratadas para transportar cocaína do Brasil para Europa e África.
Segundo investigações do Denarc (Departamento Estadual de Investigações Sobre Narcóticos), essas pessoas são usadas pelas quadrilhas da máfia nigeriana.
Grupos de nigerianos começaram a atuar no tráfico internacional na década de 80. Eram "mulas", como são chamadas as pessoas contratadas para levar a droga em bolsas, malas ou presa no corpo. Por meio desse trabalho, segundo o Denarc, os nigerianos enriqueceram e passaram a montar e liderar quadrilhas.

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