São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 1997
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Adivinhação com folhas de coca vê triunfo brasileiro

RODRIGO BERTOLOTTO; ARNALDO RIBEIRO
DO ENVIADO ESPECIAL A SANTA CRUZ DE LA SIERRA

O supersticioso Zagallo conta com os bons presságios dos xamãs bolivianos para quebrar a "maldição" de o Brasil nunca ter vencido a Copa América no exterior.
Utilizando folhas de coca e cartas, a curandeira aymará Ines Valencia Maydana previu uma vitória do Brasil sobre a Costa Rica, hoje, e um futuro de vitórias na Bolívia.
"Aqui diz que, se a torcida fizer força e os jogadores forem a uma igreja, o time vai ganhar o campeonato", afirmou a curandeira.
Zagallo acredita que o número 13 dá sorte para ele, e o Brasil faz sua estréia na Copa América em uma sexta-feira 13, com a volta de Djalminha, número 13 nas costas.
"É uma feliz coincidência. O 13 é o número de que eu gosto (leia texto abaixo). Mas não deixo isso influir nas minhas decisões", afirmou.
Segundo Zagallo, Djalminha não foi escalado porque veste a camisa 13, mas sim porque jogou bem contra a Inglaterra e porque Denílson, com o rosto inchado por golpe contra um inglês no último jogo, está vetado pelo departamento médico.
O técnico brasileiro não explicou porém o motivo de ter inscrito um jogador de meio-campo com o número 13, quando, normalmente, a camisa é destinada a um defensor.
Os xamãs e pajés de Santa Cruz de la Sierra, onde o Brasil joga, se concentram no mercado La Ramada, feira diária que fica bem no centro da cidade.
As adivinhações são feitas a partir de pedras, cartas, oráculos e da coca, vegetal básico da dieta boliviana que é também base para a produção de cocaína -o país é o terceiro maior produtor mundial de coca, atrás somente da Colômbia e Peru.
Segundos os curandeiros, muitos jogadores das equipes locais buscam seus serviços para interromper alguma má fase ou se precisam fazer mais gols.
Os times bolivianos, principalmente das regiões do Altiplano, chamam os "giatiri", (em aymará) para benzer os vestiários e gramados quando vão mal nos campeonatos.
Com orações e incensos, os "giatiris" tentam consertar o que supostamente fizeram os feiticeiros ("hacari laecari", em aymará).
"É muito melhor do que uma missa. Se a seleção quiser, eu vou ao hotel e faço umas rezas", disse a curandeira Ines.
A maioria dos rituais tem origem aymará, civilização anterior aos incas da qual ainda restam tribos na região norte do Altiplano. Esses ritos são misturados com a fé cristã no sincretismo boliviano.
Há também os curandeiros chiquitanos, que são procedentes das cidades localizadas próximas à fronteira com o Brasil. Eles misturam os rituais indígenas com a umbanda brasileira.
Na cidade de Santa Cruz, os curandeiros possuem inclusive um sindicato, que realiza reuniões semanais no sindicato dos engraxates. Agora, é só esperar para ver se uma cisão sindical entre os bruxos não mudará a sorte do treinador brasileiro. (RODRIGO BERTOLOTTO)

Colaborou ARNALDO RIBEIRO, enviado especial a Santa Cruz de la Sierra

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