São Paulo, sábado, 14 de junho de 1997 |
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O auge do controle mental
NUNO COBRA
No esporte, ela é fatal: ou se entende com ela e se entra num estágio mental que possibilita esse estado de graça, ou não -e aí sua performance é totalmente descaracterizada. Foi a emoção que levou meia dúzia de nossos atletas a esse sublime estágio mental superior, que possibilitaram a realização de inesquecíveis proezas. A emoção é a mola propulsora de nossa maior energia. É por meio dela que podemos sair do comum e atingir o extraordinário. Quando dominada e trabalhada a nosso favor, faz os recordes caírem. Sempre dizia ao Ayrton (Senna), há pouco mais de dez anos, a importância de se emocionar profundamente dentro de um desafio. Citava o Pelé como a maior inteligência das emoções que o nosso país já possuiu. Em suas delirantes exibições se percebia claramente o efeito do controle das emoções. Ele foi, sem dúvida, o grande parâmetro do Ayrton, que demonstrou claramente em várias oportunidades do que a emoção é capaz de realizar no campo desportivo. Sem essa inteligência, todas as outras desmoronam, e o atleta não consegue empenhar sua técnica e talento. O fantástico desempenho que todo o mundo pôde observar no domingo passado, numa rara e empolgante exibição do Gustavo (Kuerten) nas mais famosas quadras de saibro do mundo, foi resultado desse grande controle das emoções. Ele mostrou a força da emoção no domínio mental de suas ações esportivas. Era a mais pura emoção o que se desprendia de suas divinas jogadas. Ele foi subindo no domínio dessa emoção, e no terceiro set cada golpe espelhava seu estado de espírito, num incrível balé, harmonizado como numa sinfônica. Como um grande campeão, ele não pensava. Ele tinha alcançado aquilo que distingue o campeão de seus pares. Não sua técnica ou estratégia, mas a força de sua alma. Ele conseguiu chegar ao auge de seu controle mental. Ele mostrou nesse jogo a importância do acreditar. Isso era o mais importante, e ele conseguiu de forma magnífica. Kuerten, continue assim ingênuo e autêntico em suas jogadas maravilhosas, deixe seu tênis fluir como a água do rio que vai contornando os terrenos mais íngremes e se espalha por toda a serena planície. Deixe que seu tênis evolua assim, sereno e autêntico, sem nenhum artificialismo de jogadas preparadas por técnicos burocratas. Siga esse seu especial técnico, que, ao contrário dos outros, não pensa somente na técnica e na tática, mas na mente, porque é lá que está a solução de todos os problemas e o conseguir de todo esse sucesso. Você tem tudo para continuar encantando o mundo e dando a perdida auto-estima a nosso tão sofrido povo brasileiro, que é diuturnamente enganado pelos maus políticos. Você, sem dúvida, estará, muito em breve, entre os dez melhores do mundo. Mas por que não ser o melhor do mundo? Basta não se preocupar com isso e deixar que tudo ocorra na incrível sincronicidade da vida. Deixe seu tênis fluir que você chega lá, basta apenas acreditar, como você o fez até agora. Continue assim, exatamente assim, surfando, divertindo-se. Não mude seu técnico, seu jogo, seu estilo de vida. Esse é seu jeito -e é exatamente isso que o levará à glória. No tênis, mais que em qualquer outro esporte, não se pode prever nada. E justamente por não prever é que você chegou aí, sem ansiedade e excesso de responsabilidade. Continue assim, solto, apaixonado e com essa capacidade incrível de dominar suas emoções. Faça com que isso seja o ingrediente necessário para dar a cada jogada a presença de sua alma e toque de sua graça. Alegre o Brasil com essa clareza mental de quem está solto, tranquilo, como um artista, dando o melhor do que corre em suas veias de campeão. Que cada magistral jogada saia automática do fundo de sua alma, encaminhando pelo seu braço que rebate de forma mágica cada bola que adentra o seu campo, sempre de forma correta no momento certo, colocando-a no lugar mais preciso. Kuerten, o Brasil te necessita! Texto Anterior: Dupla também joga semifinal Próximo Texto: Gracias, González Índice |
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