São Paulo, sábado, 14 de junho de 1997 |
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Técnico modela cabeça e faz campeão
MARTA AVANCINI
Adepto da neurolinguística, Passos usa o método para evitar que Kuerten e os outros tenistas treinador por ele se deixem levar pelos próprios medos e inseguranças. Ele alia esse trabalho psicológico com a criação de estilos de jogos adaptados aos biótipos dos tenistas. Leia abaixo a entrevista de Passos à Folha: * Folha - Que tipo de trabalho você desenvolveu para transformar Kuerten em um campeão? Passos - Antes do Gustavo eu já tinha trabalhado com outros jogadores e já tinha viajado pela Europa e Estados Unidos. Eu sabia o que estava acontecendo na ATP, como ia ser o futuro do tênis. Quando o vi, o biótipo dele, vi que ia ser longilíneo, aí passei a trabalhar o estilo de jogo dele. Folha - Qual é esse estilo? Passos - Um jogo mais em cima da quadra e procurando atacar mais, pegar mais a bola na subida. Folha - O jogo de Kuerten tem características que surpreendem os adversários, Por exemplo, ele procura jogar a bola numa altura próxima a rede. Isso é treino? Passos - Exatamente. Eu tentei fazer com que ele pegasse a bola na subida. Tentei colocar na cabeça do Gustavo que ele tinha de tomar a iniciativa. Também tive de trabalhar as pernas dele, a coordenação. Em algumas viagens, ele crescia um ou dois centímetros e perdia a coordenação, o tempo do saque. Aí ele brigava comigo, e eu tinha de explicar que ele tinha crescido e passava exercícios para coordenar de novo. Folha - O trabalho que você desenvolveu com ele foi em cima do biótipo ou você usou outros jogadores como exemplo? Passos - Quando comecei a treinar o Gustavo, aos 14 anos, eu já tinha visto o Agassi, o Edberg e o Sampras jogarem. Eu falava para ele 'fulano pega a bola assim, essa bola é importante para ti'. Eu tentava modelar a parte mental dele a partir de outros jogadores. Folha - Como você define, em uma palavra, o jogo dele? Passos - Alegre. Folha - E a neurolinguística, como entra no processo? Passos - Procurei melhorar o meu eu antes de trazer o método para o tênis. Uma coisa interessante aconteceu quando estava no México acompanhando quatro jogadores, entre os quais, o Gustavo. Um italiano me disse que tinha uma esquerda muito ruim. Eu já estava estudando, mas não queria aplicar nos meus jogadores o que eu estava aprendendo. Chamei o italiano e ficamos batendo bola. Quando ele acertou um golpe, eu parei o treino e disse a ele para colocar o golpe na cabeça e tentar enchê-lo com as coisas de que mais gostava. Em seguida disse a ele para colocar a pior bola dele em um cantinho e explodi-la. Ele fez isso e começou a melhorar. Folha - Quais são os pontos mais importantes da neurolinguística para o tênis e para o Gustavo especificamente? Passos - A neurolinguística deve ser usada na parte didática e com os professores. A primeira coisa que o professor diz para a criança é 'não bata assim'. É mais fácil você ir lá, pegar a raquete e mostrar como deve ser feito. Texto Anterior: Gustavo Kuerten vence e é o 13º melhor do mundo Próximo Texto: Brasil também joga em duplas Índice |
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