São Paulo, sábado, 14 de junho de 1997
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Dona Selma tira o tecno e canta o coco

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Badalada na "manguetown" pernambucana, dona Selma do Coco, 62, realiza hoje às 22h, no palco do projeto "Babel", sua primeira experiência fora do eixo Recife/Olinda.
Face mais folclórica do vasto e generoso rótulo "mangue beat", dona Selma tem tudo para fazer balançar a platéia paulistana, acostumada a celebrar com entusiasmo manifestações de exotismo dos "tristes trópicos."
A vibração dos paulistas pelo coco, aliás, tem um bom antecedente: nas suas pesquisas pelo Nordeste, o escritor Mário de Andrade ficou encantado com esse ritmo.
Ao subir no palco que teve o domínio do tecno durante a jornada do "Babel", dona Selma do Coco certamente dobrará o frio com as batidas de palmas cadenciadas e o seu elegante coro de meninas.
Alguns versos de Selma e companhia caberiam no lirismo e na dicção coloquial de Jorge Benjor: "Cordão de ouro amarelo/ no pescoço da morena/ pra te levar tenho medo/ pra te deixar tenho pena".
Espécie de dança cantada, o coco é nordestino e tem origem atribuída a africanos e portugueses. Cabe hoje a Selma, ex-vendedora de tapioca em Olinda, mostrar que Jackson do Pandeiro estava certo em uma velha profecia. "Ele (o coco) é pernambucano/ do canavial/ entrou pro salão? virou social", pregava Jackson, o rei do suingue.
Na mesma noite, às 23h, o mangue ainda apresenta os grupos Mestre Ambrósio (às 23h), já badalado na cidade, e Coração Tribal (às 21h), que luta, tanto em Recife como fora, para se firmar como uma opção mais FM, ou mais pop, como queiram, da música feita hoje em Pernambuco.
Com um disco gravado ano passado pela Virgin, a banda ainda se queixa de sofrer preconceito em Recife. Segundo o grupo, o pecado da turma é fazer um som mais palatável do que a ala dita mais autêntica do mangue.
Depois de São Paulo, Coração Tribal parte para a Europa, onde se apresenta, entre outros lugares, no Festival de Montreux.
Com Mestre Ambrósio, que fecha a noite, a platéia tem animação garantida. Principalmente para quem tem um pé no forró e quer gastar a sola do sapato. Com batida pesada, a música "Usina" levanta até os fantasmas de espantalhos perdidos nos sertões do Nordeste.

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