São Paulo, domingo, 15 de junho de 1997 |
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McVeigh tem diversas opções de recurso
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
Há muitas possibilidades legais a serem exploradas por McVeigh: da constitucionalidade da pena de morte e da lei que tornou seus crimes puníveis com ela até diversas decisões do juiz que podem ter prejudicado a defesa. O famoso jurista Alan Dershowitz sugere uma outra alternativa: McVeigh pode alegar que seus advogados não o representaram de maneira adequada e pedir outro julgamento. Para Dershowitz, personagem de cinema em "O Reverso da Fortuna", a defesa de McVeigh foi "horrível". Quase todos os observadores ficaram surpresos com os argumentos de Stephen Jones na fase final do julgamento, após o veredicto de culpa, quando se decidia a pena. Em vez de manter a inocência de McVeigh, Jones passou a justificar o crime. Pode ser que ele estivesse tentando repetir a estratégia de Clarence Darrow, o mais famoso advogado dos EUA do início deste século, que em 1924 representou dois adolescentes de Chicago acusados de ter matado um bebê. Darrow admitiu a culpa dos clientes e transformou seu julgamento num debate sobre a pena de morte. Ambos escaparam. McVeigh, não. Na verdade, ele nunca teve escapatória. Um dia, vai ser executado. Ninguém tinha dúvida sobre o veredicto ou a sentença. Num país como os EUA, inflamado por divisões raciais, não há como justificar que um branco que matou 168 pessoas, inclusive crianças e mulheres grávidas, permaneça vivo enquanto quase um negro por semana é executado só no Texas por ter assassinado um caixa do supermercado que ele estava assaltando. Assim como o brigadeiro Joseph Ralston iria ser punido por causa de um caso que tivera há 13 anos com uma civil quando estava separado, mas não divorciado da mulher, só porque a tenente Flinn antes fora forçada a deixar a Força Aérea devido ao seu envolvimento atual com o marido de uma recruta na sua própria base. Um dos axiomas básicos dos castigos sérios é o seguinte: quanto mais se aplica, mais se é obrigado a aplicar. Mas, se McVeigh já estava condenado à morte antes do julgamento, mais pela pressão social que por força das evidências, seu suposto cúmplice, Terry Nichols, tem mais chances de escapar vivo. O caso da promotoria contra McVeigh não era dos mais fortes; o de Nichols é frágil. Este acusado se entregou à polícia assim que seu nome foi mencionado no episódio, e ninguém diz tê-lo visto nas proximidades do local do crime. A defesa de Nichols vai explorar John Doe 2 ("João Ninguém 2"), a pessoa, nunca identificada, vista por várias testemunhas junto com McVeigh às vésperas da explosão perto de Oklahoma City, inclusive na locadora que alugou o caminhão que depois explodiu. Pelo menos 12 pessoas foram detidas por semelhança com John Doe 2. Mas a polícia federal não conseguiu acusar nenhuma. A defesa de McVeigh não usou muito essa linha de argumento, talvez pelo fato de seu cliente ter sido sempre visto ao lado de John Doe 2 em situações incriminadoras. Mas este não é o caso de Nichols. Por isso, a acusação vai tentar caracterizá-lo como autor intelectual do atentado. Sem diminuir a responsabilidade de McVeigh, a promotoria vai argumentar que Nichols insuflou e planejou a realização de uma explosão num prédio público federal para punir o governo pelos crimes contra a cidadania que ele julga serem cometidos por qualquer tipo de Estado. Texto Anterior: Ensaio da festa cria problemas Próximo Texto: Sentença acende debate Índice |
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