São Paulo, domingo, 15 de junho de 1997
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O terremoto

CLÓVIS ROSSI

Amsterdã - Pena que o presidente Fernando Henrique Cardoso não tenha tempo para ler jornais britânicos.
Morreria de inveja de seu colega Tony Blair, tão social-democrata quanto FHC, no papel, e tão neoliberal quanto ele, na prática.
Blair assumiu faz apenas um mês e meio, mas já conseguiu mais do que FHC em dois anos e meio. Conseguiu tanto que o jornal "Daily Telegraph" publicou, dias atrás, uma charge em que um garoto pergunta ao pai:
"Pai, por que Tony Blair deixa terremotos acontecerem?"
A revista "The Economist" reproduz a piadinha para mostrar, com uma carga de ironia que nem os colunistas da Folha conseguem imitar, que Blair fez o milagre de mudar a Grã-Bretanha para "terra da esperança e da glória", título do artigo.
Blair melhorou até o tempo, o que justifica a pergunta do garoto. Além de ter deixado os consumidores confiantes, os políticos britânicos decentes e os esportistas da terra, "débeis até agora", capazes de vencer a Austrália no críquete e a Itália no futebol (a revista deve ter fechado antes dos jogos contra França e Brasil).
O que, na verdade, fez Blair? Nada. Até por falta de tempo. O que parece ter melhorado o humor britânico é exatamente o fato de que seu novo primeiro-ministro sepultou, pelo menos até agora, a era da revolução conservadora sem ter iniciado uma outra revolução, social-democrata.
Mexida demais cansa, ainda mais quando afeta o cotidiano das pessoas, o que aconteceu, para o bem ou para o mal, com muitas das medidas dos conservadores.
Cansa, é claro, nos países que, bem ou mal, estão prontos e acabados. No Brasil, em construção há 500 anos, uma mexida de verdade até que viria bem. Mas o governo só pensa nas tais reformas, que não reformam o essencial (a qualidade de vida).
Algum dia, algum garoto brasileiro ainda vai perguntar por que FHC não deixa um terremoto acontecer.

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