São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 1997
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Guerrilha liberta 70 soldados

Reféns são soltos após 289 dias

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O grupo guerrilheiro colombiano Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) libertou ontem 70 soldados -60 deles mantidos cativos desde agosto de 1996, e dez, desde janeiro.
A libertação põe fim à mais longa crise de reféns da América Latina -289 dias. No dia 30 de agosto do ano passado, 60 soldados foram capturados e pelo menos 27 mortos na Província de Putumayo (sudoeste). Dez fuzileiros navais foram capturados este ano na Província de Choco (noroeste).
Em março, os guerrilheiros das Farc libertaram dois funcionários brasileiros da construtora Andrade Gutierrez. Os engenheiros Demétrio Mendonça Duarte e Eduardo Batista de Oliveira Resende Costa foram mantidos reféns durante oito meses.
A libertação aconteceu ontem às 15h45 (hora de Brasília) na praça central de Cartagena del Chaira, cerca de 350 km ao sul de Bogotá (capital), com três horas de atraso, devido ao lento transporte dos soldados até a cidade.
O grupo foi recebido pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Em entrevista, os reféns, que vestiam os mesmos uniformes que os guerrilheiros, disseram ter sido bem tratados, mas que em nenhum momento pensaram em fugir, pois seria uma ação suicida.
"O cativeiro foi muito duro, mas sabíamos que o governo e a guerrilha estavam tratando de nos libertar. Os guerrilheiros nos trataram bem", disse o soldado Walter Adolfo Cabrera.
Poderio militar
Os ex-reféns destacaram ainda o poderio militar da guerrilha. Segundo um deles, Jonathan Bustamante, "só falta aos guerrilheiros aviões e tanques".
Para Robert Pastor, da Fundação Carter dos EUA -um dos vários observadores internacionais que acompanharam a devolução dos reféns-, a negociação que permitiu a libertação foi "importante porque pode ser a chance de acabar com a mais longa guerra de guerrilhas da América Latina.
Já o editor do jornal colombiano "El Tiempo", Enrique Santos Calderón, acredita que a libertação apenas aumentará o conflito interno, porque ela aponta um crescimento da força da guerrilha.
"É um triunfo diplomático, tático e de relações públicas das Farc."
A escolha da cidade é simbólica. Cartagena del Chaira se encontra no centro da maior área de plantio de cocaína. As Farc têm sido acusada de proteger os plantadores e laboratórios clandestinos.
O governo do presidente Ernesto Samper responde a acusações por aceitar contribuições eleitorais do narcotráfico.

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