São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 1997
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Motta propõe que compra de voto seja investigada pela PF

LUCAS FIGUEIREDO
LUIZA DAMÉ

LUCAS FIGUEIREDO; LUIZA DAMÉ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ministro das Comunicações depõe em comissão e nega envolvimento

O ministro Sérgio Motta (Comunicações) defendeu ontem que a Polícia Federal (PF) entre nas investigações sobre compra de votos a favor da emenda da reeleição.
"Eu acho que se deve pedir para a Polícia Federal entrar nas investigações para detalhar. Estou aberto a participar de todas essas etapas, para depor em qualquer instância", afirmou o ministro.
O ministro disse isso durante seu depoimento na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, onde esteve ontem como convidado para esclarecer o caso da compra de votos.
A PF pode abrir inquérito para investigar a compra de votos a mando do próprio governo ou a pedido do Ministério Público.
Além de propor a entrada da PF na apuração, o ministro disse também que se encontrou com deputados acusados de vender votos, em seu gabinete, antes e depois da votação na Câmara.
Motta negou, entretanto, qualquer envolvimento com a compra de votos.
Segundo os ex-deputados Ronivon Santiago e João Maia (ambos ex-PFL-AC), em fitas gravadas reveladas pela Folha, Sérgio Motta foi um dos responsáveis pela compra de seus votos, por R$ 200 mil.
Motta afirmou que se encontrou, em seu gabinete, com quatro dos acusados de participação no esquema de compra de votos entre os dias 23 de janeiro e 6 de março.
O período corresponde a cinco dias antes da votação da emenda em primeiro turno, ocorrida no dia 28 de janeiro, e nove dias após o segundo turno, em 25 de fevereiro. Os encontros, segundo o ministro, foram com os ex-deputados João Maia (23 de janeiro) e Ronivon Santiago (6 de março), o deputado Osmir Lima (20 de fevereiro), e o governador do Acre, Orleir Cameli, juntamente com outros parlamentares do Estado (26 de fevereiro).
Motta afirmou que nos encontros foram tratadas reivindicações relacionadas à sua pasta e também à obra da BR-364, do Acre.
Indagado se aceitaria apresentar as contas telefônicas do Ministério das Comunicações, disse que isso só faria sentido se "todos" os envolvidos fizessem o mesmo.
Além de Ronivon e João Maia, três outros deputados do Acre -Osmir Lima (PFL), Chicão Brígido (PMDB) e Zila Bezerra (PFL)- são citados nas gravações como tendo vendido o voto também. Os responsáveis pela compra, segundo as fitas, são os governadores Orleir Cameli, do Acre, e Amazonino Mendes, do Amazonas -além do ministro Motta.
Depois da publicação das reportagens, Ronivon e João Maia renunciaram para escapar de um processo de cassação.
Nas fitas, o deputado João Maia diz que o ministro Sérgio Motta deu dinheiro para Amazonino efetuar o pagamento dos votos. Ainda nas gravações, é citado que a obra da BR-364 entrou nas negociações de compra de votos.
A rodovia foi objeto, segundo o próprio ministro disse ontem, da conversa que teve com João Maia cinco dias antes da votação e com o governador Cameli, um dia após o segundo turno.
Ao citar os encontros que teve com os acusados de vender e comprar votos, Motta se defendeu dizendo que até o mês passado havia recebido em seu gabinete 2.015 parlamentares, de partidos de oposição e da base governista.
"Atenderei 4.000 se me for pedido", disse o ministro.
A defesa de Motta centrou sua defesa na tentativa de desqualificar Ronivon Santiago e João Maia.
"Não há denúncia nenhuma contra mim. O que há são afirmações do tipo 'parece', 'acho que', 'sei lá'. Os deputados são dois desqualificados.", disse Motta.

LEIA MAIS sobre o depoimento de Motta às págs. 1-6 e 1-8

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