São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 1997
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Mulheres envelhecem sozinhas em SP

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

As mulheres paulistas estão vivendo mais, mas esse acréscimo de anos -para boa parte delas- está resultando numa piora na qualidade de vida. No grupo de mulheres acima de 65 anos, 15,8% estão vivendo sozinhas, 53,9 % estão morando com os filhos, 66% recebem aposentadoria ou pensão e o que ganham equivale à metade do que recebem os homens aposentados. Acima de 75 anos, somente 17,9% das mulheres estão casadas, contra 67,5% dos homens.
Os dados sobre a "velhice feminina" constam do boletim "Mulheres em Dados", divulgado ontem pela Fundação Seade, sistema estadual de análise de dados.
Em 1995, a esperança de vida da mulher paulista ao nascer era de 73,9 anos, quase uma década mais que os homens, que ficavam nos 64,9 anos. Essa "sobrevida" feminina -cuja tendência é de crescimento- pode se transformar num período de vida promissor, como relatam algumas mulheres (leia depoimentos na página).
Para a maioria, no entanto, viver mais que os homens está significando carregar o fardo da família. No grupo de chefes de família acima de 65 anos, 44% são mulheres, quase três vezes mais que na população em geral.
É nesse período da vida que a mulher está mais sujeita a doenças e mais precisaria do apoio da família. "As políticas públicas de saúde precisam levar em conta a feminilização da velhice", diz Guita Grin Debert, antropóloga da Unicamp.
Paulo Saad, demógrafo do Seade, diz que a "falta de uma política oficial de apoio à velhice obriga os idosos a procurar apoio na família". No entanto, a grande maioria das mulheres idosas que está vivendo sozinha (15,8% do total) está nessa situação por abandono do que restou da família, observa Saad. "Poucas estão sozinhas como opção pela 'intimidade à distância', quando a mulher prefere morar só e tem condições para isso, conservando o contato com filhos e netos", afirma.
Segundo os dados do Seade-IBGE, 53,9% das mulheres com mais de 65 anos estão vivendo com filhos casados ou solteiros. Essa presença da família nem sempre significa um apoio para a mulher. "Em muitos casos, está ocorrendo uma inversão", diz João Toniolo Neto, do Centro de Estudos do Envelhecimento da Universidade Federal de São Paulo. Por causa de dificuldades financeiras, é cada vez mais comum filhos -casados ou solteiros- se mudarem para a casa da mãe viúva, que ao longo da vida conseguiu comprar um imóvel. "Nessas condições, a mulher idosa acaba perdendo a individualidade", diz Toniolo.

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