São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 1997
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Entusiasmo marca Filarmônica de NY

LUIS S. KRAUSZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Para Kurt Masur, cada orquestra tem sua própria personalidade - e um dos aspectos que ele mais admira na Filarmônica de Nova York, da qual é regente-titular desde 1991, é, como ele mesmo diz, "sua capacidade de tocar qualquer coisa com brilho e virtuosidade extraordinários".
Efetivamente, a apresentação de Masur à frente da Filarmônica de Nova York, no Teatro Municipal, na noite de anteontem, evidenciou, em primeiro lugar, o entusiasmo desses músicos, regidos por um maestro a um só tempo exato e eletrizante, e também o apuro de sua técnica, a opulência de sua sonoridade e a precisão impecável de seus instrumentistas.
Masur, além disso, é conhecido pela atenção sem par que devota às minúcias das obras que rege -o que se tornou visível, sobretudo, em sua leitura da "Sinfonia nº 3" de Bruckner, na segunda parte de um programa dedicado exclusivamente à música austro-alemã do século passado.
Cada uma das notas dessa partitura complexa, e frequentemente circular, foi ouvida com perfeita clareza, numa interpretação que espantou pela limpidez e vitalidade.
A coerência do programa, aliás, foi também um dos pontos altos da noite: Wagner na primeira parte (um prelúdio dos "Mestres Cantores" e a "Abertura Tannhãuser") e Bruckner ("Sinfonia nº 3"), wagneriano por excelência, na segunda. No bis, Masur regeu a orquestra em um prelúdio de "Lohengrin".
Pena que o regente (ou os organizadores?) não tenham deixado espaço, também, para a música menos reluzente, menos rica de efeitos, porém mais profunda e plena de significados musicais, de Brahms, um dos carros-chefes do repertório desta orquestra, ou para o lirismo delirante de Mahler -que ocupou, de 1909 a 1911, o posto que ora pertence a Masur.
Programa, no entanto, é questão de gosto. Quem não gostou das peças ao menos encontrou motivos de sobra para entusiasmar-se com a qualidade da orquestra.
É uma orquestra que transpira intensidade, elétrica, arrojada e extrovertida, para quem a influência de Leonard Bernstein e do jazz são evidentes, e que faz um interessante contraponto à seriedade e à precisão de mestre-artesão que caracteriza o trabalho de Masur.

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