São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 1997
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Executivos perguntam sobre NC e PC do futuro

BILL GATES

Há dois anos e meio venho usando esta coluna para responder perguntas formuladas pelos leitores. De vez em quando, pretendo utilizá-la também para responder perguntas vindas diretamente de empresários e líderes do governo.
Este mês optei por responder perguntas formuladas por executivos-chefes de diversas empresas pelo mundo afora.
As perguntas, que reformulei em minhas próprias palavras, foram feitas numa reunião privada de executivos-chefes que presidi recentemente em Seattle.
Pergunta - Muitas empresas e indústrias terão de se reestruturar em função da informática. Algumas sofrerão impactos dos quais dificilmente conseguirão se recuperar. Quais indústrias serão afetadas primeiro?
Resposta - As primeiras empresas a sofrer o impacto da informática serão aquelas que trabalham com informações.
Se as companhias financeiras, bancos, seguradoras e corretoras não aproveitarem as novas maneiras de administrar a informação, não conseguirão se manter competitivas.
Por outro lado, empresas cujos negócios se baseiam em recursos naturais, tais como minas de ouro, reservas petrolíferas ou imóveis, estarão relativamente bem protegidas. O valor de seu patrimônio não é afetado. Mas não são tantas companhias assim que caem nessa categoria.
Dentro de alguns anos, algo como 80% da economia dos países desenvolvidos será profundamente afetado pela informática.
O setor manufatureiro, por exemplo, já evoluiu a ponto de se tornar extremamente movido pela informação -o processo de design, a coordenação dos fornecedores, assegurar que o produto satisfaça as necessidades dos clientes e que o preço seja correto e assim por diante.
Embora a informática esteja acelerando o ritmo das transformações, as posições de empresas e indústrias vêm mudando há muito tempo.
Para comprovar isso, basta olhar as listas das dez maiores empresas norte-americanas, em termos de valor (capitalização de mercado) em diversos momentos, no decorrer dos anos.
É surpreendente quão poucas companhias conseguem manter sua posição de uma década para outra.
Em 1980, empresas petrolíferas ocupavam sete dos dez lugares mais altos, mas apenas três em 1985, e um em 1990.
A enorme cadeia varejista Sears figurava na lista em 1985, mas em 1990 já havia sido desalojada por sua rival Wall Mart.
Das dez empresas de maior valor em 1990, apenas sete ainda figuravam na lista no final de 1996. Elas eram, em ordem descendente de valor, General Electric, Coca-Cola, Exxon, Merck, Phillip Morris, Johnson & Johnson e IBM.
Assim, as transformações são regra. A diferença é que vamos testemunhar mais delas.
Pergunta - Você poderia nos dar uma visão do "computador de rede", ou NC ("network computer")?
Resposta - A busca atual é por simplicidade, que vai levar à queda acentuada do custo de possuir e operar tecnologia da informação. A discussão é sobre qual estratégia de simplificação é a melhor.
Não sou um observador imparcial. Acredito no computador pessoal, há muito tempo, e continuo acreditando. O PC de amanhã é sempre muito melhor do que o de hoje.
O computador de rede não é um termo bem definido, porque as empresas que pretendem lançar NCs têm visões divergentes, mas as arquiteturas propostas têm duas coisas em comum.
Em primeiro lugar, os NCs requerem um servidor caro no centro da rede.
Essa abordagem é um retrocesso para a era do mainframe, quando a potência de computação era controlada centralmente e os fabricantes de hardware cobravam preços altos pelo software que operava em suas máquinas centralizadas.
Em segundo lugar, os NCs não são compatíveis com PCs -nem mesmo com NCs rivais.
Para usar um computador de rede você terá de reescrever seus aplicativos, aprender uma nova interface de usuário e construir toda uma nova estrutura de rede em torno deles.
Costumo dizer que NC são as iniciais de "Não Compatível".
Não há dúvida de que a complexidade do uso e da manutenção dos computadores é maior do que precisaria ser.
Cada PC numa rede de empresa requer atenção individual, e o pessoal de suporte técnico muitas vezes precisa ir até um computador específico para resolver apenas um probleminha simples.
O NC promete permitir que uma rede inteira seja administrada centralmente. Isso é um desafio interessante para os fabricantes de hardware e software para PCs.
Pode o PC oferecer administração central e, ao mesmo tempo, preservar a compatibilidade com o hardware e o software de hoje, oferecendo aos usuários as vantagens da potência de computação do desktop?
A resposta é "sim", como ficará claro daqui a pouco.
Em pouco tempo, vamos possibilitar que cada novo PC ligado a uma rede seja configurado centralmente.
Se você entrar no computador de outra pessoa, poderá visualizar suas próprias informações. Os softwares serão atualizados automaticamente. Administrar uma rede vai se tornar uma tarefa muito mais simples.
A história é prova de como é possível resolver completamente até os problemas mais complexos.
Alguns anos atrás, o problema que complicava a vida dos usuários de computador era a impressão.
Era difícil fazer com que o computador imprimisse os dados. Quando o fazia, as fontes às vezes não eram as corretas. Era uma verdadeira dor de cabeça.
Hoje em dia, as pessoas praticamente nem precisam pensar na impressão. Fazem, e pronto.
Daqui a alguns anos, as pessoas praticamente não vão precisar se preocupar em atualizar seus softwares ou configurar um conjunto de PCs em rede. Vão fazer, e pronto. Sem problemas.
Pergunta - A demanda de PCs novos vai se manter forte nos próximos dez anos ou as companhias vão resolver conservar o que já têm?
Resposta - Não tenho dúvida alguma de que os trabalhadores da informação terão os PCs mais modernos em suas mesas.
As vantagens competitivas dos equipamentos mais modernos vão continuar sendo imperativas.
Nos próximos 20 anos, os computadores vão ficar 1 milhão de vezes mais potentes do que são hoje.
Ninguém precisa que as planilhas e os processadores de texto sejam 1 milhão de vezes mais velozes do que são hoje, mas não é assim que a potência de computação extra será usada.
A potência de processamento será utilizada por softwares que permitam que PCs com microfones e câmeras de vídeo embutidos reconheçam vozes e pessoas, reajam a gestos e desempenhem uma adequação sofisticada entre padrões, permitindo o "Aprendizado".
Quando a interface gráfica apareceu pela primeira vez, primeiro no Macintosh e depois no "Windows", algumas pessoas disseram: "Ninguém vai querer isso, porque torna a máquina lenta demais".
Só foi preciso algum tempo para os processadores se acelerarem e os aplicativos que aproveitam a interface gráfica evoluírem.
Agora, praticamente ninguém fala nos bons velhos tempos do modo caractere, quando a única coisa que se via na tela era texto.
A mesma coisa vai acontecer com a entrada de voz e imagens visuais. Uma vez que funcionar bem, poucas pessoas vão querer deixar de ter.

Cartas para Bill Gates, datilografadas em inglês, devem ser enviadas à Folha, caderno Informática -al. Barão de Limeira, 425, 4º andar, CEP 01202-900, São Paulo, SP- ou pelo fax (011) 223-1644.
E-mail:±askbill@microsoft.com

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