São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 1997
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Azeredo conhecia risco de rebelião

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo (PSDB), sabia que os soldados, cabos, sargentos e subtenentes da Polícia Militar de Minas Gerais estavam insatisfeitos com os salários e que havia riscos de a tropa se rebelar.
Na última sexta-feira, os PMs mineiros fizeram greve. Cerca de 400 PMs saíram em passeata pelas ruas de Belo Horizonte. Os policiais realizaram protestos em frente à sede do governo mineiro e do Copom (Comando de Policiamento). Pediam reajuste salarial.
A Agência Folha apurou junto a oficiais do Copom que o alto-comando da PM mineira levou ao conhecimento de Azeredo os levantamentos feitos sobre a situação sócio-econômica dos praças.
Esses relatórios foram realizados no início do ano a pedido do CPC (Comando de Policiamento da Capital). Mesmo assim, o aumento para os oficiais, variando entre 10% e 20%, foi concedido pelo governo.
Havia no comando-geral da PM uma confiança de que a tropa, mesmo insatisfeita, não se rebelaria. Os comandantes das unidades, entretanto, não tinham essa certeza, demonstrada nos relatórios enviados ao comando-geral.
Assessores do governo mineiro, que estão na Europa acompanhando o governador em uma missão comercial, informaram à rádio Itatiaia, de Belo Horizonte -que acompanha essa missão-, que Azeredo foi pressionado pelo alto-comando a conceder o aumento, sob a alegação de que conteriam a tropa.
A Agência Folha tentou às 10h30 de ontem falar com Azeredo na Europa, mas, segundo a sua assessoria, o governador estava deixando a Hungria e seguiria para a Alemanha. A assessoria ficou de falar com o governador na Alemanha. Até as 16h não houve retorno.
Críticas
Alguns oficiais criticam o que consideram "excesso de confiança" do alto-comando e também o fato de as previsões dos comandantes dos batalhões não terem sido consideradas.
Segundo um oficial do Copom, todo o relatório é muito bem detalhado. Cita os problemas financeiros de alguns praças e faz o alerta sobre um eventual distúrbio.
Procurado pela Agência Folha, o tenente-coronel Rúbio não quis comentar o relatório, afirmando que "graças a Deus" a situação está sob controle.
Os oficiais que trabalham no Copom consideram que "o grande erro" do governo e do alto-comando foi não terem sido "mais habilidosos politicamente".
Eles dizem que o reajuste concedido aos oficiais -em função do aumento judicial obtido pelos delegados da Polícia Civil- poderia ter sido adiado até que o governo tivesse a autorização da Assembléia Legislativa para conceder o aumento aos praças por meio de decreto. Dessa forma, dizem, a tropa poderia ter sido contida.

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