São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 1997
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Batistas dos EUA anunciam boicote à Disney

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

A maior igreja protestante dos EUA, a Convenção dos Batistas do Sul, ordenou ontem a seus 15,7 milhões de fiéis que boicotem todos os produtos e empresas do grupo Disney, o segundo maior do mundo no setor de comunicação.
O motivo para o boicote é o que os batistas do sul consideram "uma direção antifamiliar e anticristã" da Disney. Entre os exemplos mencionados como prova dessa orientação: a realização de "dias dos gays" na Disneyworld, a distribuição de filmes com conteúdo violento como "Kids" e "Pulp Fiction", o programa de televisão "Ellen", em que a personagem principal se revelou lésbica.
O reverendo Richard Land, um dos dirigentes nacionais da igreja, disse que "a Disney vai descobrir quantos regimentos e quantas divisões de soldados de Deus os batistas do sul têm". Segundo ele, desde que a igreja deu prazo de um ano para a empresa mudar sua orientação, 3 milhões de pessoas cancelaram suas assinaturas do canal Disney de TV por cabo.
O porta-voz da Disney, Ken Green, evitou comentar a decisão dos batistas do sul, mas disse que a empresa "não tem nada do que se envergonhar" e que ela "cria mais entretenimento familiar de todos os tipos do que qualquer outra organização no mundo".
A Disney tem sido alvo de ataques de entidades religiosas tradicionalistas há pelo menos três anos, apesar de seu fundador, Walt Disney (1901-1966) ter defendido posições ideológicas e políticas muito conservadoras. Na década de 60, a Disney era considerada por muitos intelectuais de esquerda um símbolo do "imperialismo cultural norte-americano".
Uma das decisões recentes do grupo Disney que irritou os conservadores foi a de estender benefícios de assistência médica a parceiros do mesmo sexo de seus funcionários, como faz a casais de homens e mulheres. David Smith, porta-voz do grupo de defesa dos direitos dos homossexuais Human Rights Campaign, afirmou que a maioria dos norte-americanos não concorda com as posições "bizarras" dos batistas do sul.
A decisão de ordenar aos fiéis que deixem de consumir qualquer produto vinculado à Disney e suas subsidiárias foi tomada pela maioria absoluta de 12 mil convencionais reunidos em Dallas, Texas, sul dos EUA, para a assembléia geral anual da igreja. "A questão não é se o boicote vai mudar a Disney, mas é se ela vai mudar os batistas; precisamos provar a nós mesmos que temos mais amor a Jesus do que ao entretenimento", disse uma das defensoras da medida, Lisa Kinney, sob muitos aplausos.
Os convencionais não chegaram a aprovar boicotes similares contra as redes de lanchonetes McDonald's e de supermercados Wal-Mart, que têm convênios com a Disney, apesar de proposta com esse objetivo também ter sido apresentada a eles ontem.

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