São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 1997
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Segundos pensamentos

CLÓVIS ROSSI

Amsterdã - Chega a ser notável como aumenta o número dos colunistas liberais ou conservadores que lançam dúvidas sobre o livre-mercado como solução para todos os problemas.
Não que tenham dúvidas de que o mercado é a melhor maneira de organizar a economia (ou a menos ruim).
Nisso, continuam fiéis. Mas, ao contrário de um punhado de brasileiros cristãos-novos ou velhos do mercado, não depositam nele uma fé cega, absoluta, fundamentalista.
O mais recente da série é Joe Rogaly, um dos mais brilhantes colunistas do quase impecável "Financial Times", que pode ser acusado de tudo, menos de inclinações esquerdistas.
No fim-de-semana, Rogaly usou o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano, divulgado pelas Nações Unidas) para dizer que o problema não é, exatamente, o gasto público, mas como e com quem gastá-lo.
Conclusão, tão simples como difícil de contestar:
"O verdadeiro valor do IDH está em seu desafio implícito à estreita visão concentrada nos mecanismos de mercado".
Antes dele, outros colunistas conservadores haviam se rebelado contra a maciça predominância do dinheiro na sociedade moderna. Como William Pfaff, que escrevia, em abril, em "The International Herald Tribune", uma co-edição global dos portentosos "The Washington Post" e "The New York Times":
"Negócios certamente foram sempre o negócio da América, mas, no passado, não foram o único negócio".
Ou Jim Hoagland, no mesmo jornal e mesmo mês: "O triunfo do capitalismo não deveria se transformar em uma licença para a pirataria no mercado internacional. Esse desenlace erodiria e depois destruiria o espírito (...) que transformou a América em uma baliza para o mundo, o símbolo de valores mais amplos do que o valor do dinheiro".
No Brasil, muita gente boa baba na gravata ao ouvir a palavra mercado.

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