São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 1997
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Bahia perde a 'elegância sutil' de Bobô

FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos jogadores mais expressivos revelados pelo Estado da Bahia nos últimos anos está abandonando o futebol.
O meia-atacante Raimundo Nonato Tavares da Silva, ou simplesmente Bobô, alcunha pela qual ficou conhecido nacionalmente, perdeu um pouco da emoção de jogar, como ele mesmo define, e quer agora se dedicar apenas à carreira de treinador.
Bobô, 34, começou a jogar profissionalmente em 1982, aos 18 anos, na Catuense, de Catu (BA), time em que permaneceu por quatro anos, até ser contratado pelo Bahia, no início de 1986.
Pelo clube de Salvador, conquistou o título mais importante de sua carreira, o Brasileiro de 1988.
Na final do torneio, o time, que tinha como atração maior Bobô mas que revelaria também para o futebol brasileiro o atacante Charles e o meia Paulo Rodrigues, bateu o Internacional-RS.
Em 1989, Bobô transferiu-se para o São Paulo, primeira etapa de uma longa temporada pelos grandes clubes do Centro-Sul do país.
Nessa época, foi convocado quatro vezes para a seleção brasileira, treinada por Sebastião Lazaroni.
No São Paulo, Bobô foi campeão paulista de 1989. Um ano depois, foi para o Flamengo, onde conquistou a Copa do Brasil.
Em 91, chegou ao Fluminense, time em que jogaria por três anos, mas onde não ganhou títulos.
Bobô ainda jogou no Corinthians, em 93, e no Internacional-RS, em 94, até voltar para a Bahia. Jogou alguns meses na Catuense e retornou ao time do Bahia em meados de 1995, onde permaneceu até a última terça-feira.
A perda de emoção foi um dos motivos da aposentadoria de Bobô, mas não foi o único.
O ex-jogador começou a achar entediante a concentração, rotina obrigatória no futebol profissional, que começava a incomodar também a sua esposa.
"Sempre que eu ia concentrar, ela reclamava. E isso também me impedia de acompanhar o crescimento de minha filha (Ana Teresa, de dez meses)", diz.
Além disso, Bobô já tinha planos para ser treinador. "Estava há uns seis meses pensando nisso. Foi uma decisão muito difícil, mas queria começar essa nova etapa em minha vida."
Bobô já tem duas propostas de trabalho na nova profissão. Uma da Catuense, a outra de outro clube baiano que não quis revelar.
Em qualquer caso, porém, afirma que não assumirá imediatamente. "Preciso de um tempo para estudar e me aprimorar."
'Muso'
A precisão nos passes, o bom posicionamento em campo e a forma elegante de atuar foram algumas das características marcantes do jogador -chegaram a servir de inspiração para o compositor Caetano Veloso, que cita "a elegância sutil de Bobô" em sua música "Reconvexo".
Sobre Caetano, o ex-jogador diz que o cantor não chega a ser um amigo. "Poderia dizer que é um conhecido, com quem tenho uma convivência muito prazerosa."
Polêmico
O temperamento reservado e tranquilo não impediu que o jogador se envolvesse em algumas polêmicas durante a sua carreira.
Quando jogava no São Paulo, em 1989, Bobô foi pivô de uma confusão envolvendo a filha do então presidente do clube, José Eduardo Mesquita Pimenta, que teria assediado sexualmente o ex-jogador.
Hoje, Bobô não gosta de comentar o caso, segundo ele mera especulação da imprensa. "Disso, não falo. Não interessa. Entrei de gaiato numa história e acho isso uma encheção de saco."

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