São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 1997
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FHC ataca "indolência" dos intelectuais na "Lua Nova"

Chega às livrarias publicação com entrevista do presidente

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Com uma entrevista inédita com o presidente Fernando Henrique Cardoso, chega hoje às livrarias o 39º número da revista "Lua Nova", comemorativa dos 20 anos do Cedec (Centro de Estudos de Cultura Contemporânea), que nasceu, em 76, de uma dissidência do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), ao qual pertencia FHC na época.
Na entrevista, concedida a Brasílio Sallum Jr., professor do Departamento de Sociologia da USP, FHC critica a "indolência do intelectual brasileiro".
Referindo-se implicitamente aos críticos do governo, o presidente diz: "O cara fica no gabinete e escreve; não anda, não vê, não examina" (leia o trecho em box nesta página).
FHC diz na entrevista que a tarefa de seu governo é "reorganizar o capitalismo brasileiro", o que, segundo ele, "as pessoas não sabem, não percebem".
A entrevista não foi feita originalmente com a finalidade de ser publicada. Realizada em agosto de 96, ela faz parte de um estudo em andamento de Brasílio Sallum, financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), sobre "A Nova Estratégia Brasileira de Desenvolvimento". Fernando Henrique Cardoso autorizou agora Sallum a publicar alguns trechos.
Se a distância de um ano por um lado "esfria" o depoimento de FHC, por outro a natureza dos temas tratados dão atualidade à conversa. Com a emenda da reeleição aprovada, os assuntos adquirem nova relevância.
A certa altura FHC diz: "O fundamental é que eu não posso perder a sucessão. Quer dizer, quem me suceder tem que ser pessoa afinada, para poder seguir, porque para estabilizar tem que haver continuidade".
Sobre o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), FHC afirma: "Você vê, hoje o movimento dos sem-terra é um problema urbano, quer dizer, a sociedade urbana acredita que a reforma agrária é essencial para o país. Para o país não é; é essencial para os que não têm terra. Mas aqui sempre vai haver um Luiz Inácio da Silva pairando no ar. É verdade que já não há mais o risco populista clássico. Leonel Brizola sumiu. O PT é reivindicação social legítima, que tem força na medida em que esses processos são lentos".
O presidente ainda fala sobre os bastidores nervosos do período de implementação do Plano Real, o papel do Estado na economia, as estratégias de crescimento, o espaço nacional na era da globalização e o Mercosul, entre outras coisas.
A respeito desse último ponto, FHC diz: "Eu nunca acreditei na possibilidade de integração latino-americana e muito menos caribenha. Não dá. Então, na minha visão, o nosso espaço histórico-geográfico é a América do Sul".
Organizada, como de hábito, em torno de um núcleo temático, a revista "Lua Nova" reúne ainda nesse número sete textos sobre o tema "Governo & Direitos".

Onde encontrar: revista Lua Nova (nº 39), lançamento do Cedec (r. Airosa Galvão, 64, São Paulo, CEP: 05002-070, tel. 011/871-2966)

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