São Paulo, sábado, 21 de junho de 1997
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CPI do golpe

PAULO ROBERTO ARENHART

O maior inimigo da democracia é a vaidade pessoal de alguns políticos. O segundo é o cerceamento do direito à denúncia desse tipo de postura. A tentativa de parte dos parlamentares catarinenses para, por meio de subterfúgios, alcançar o poder sem passar pelo crivo das urnas é postura que envergonha o Parlamento e toda a classe política e que desrespeita frontalmente a vontade popular.
Derrubar o governador de Santa Catarina, Paulo Afonso, sem elencar provas incontestes de desagravo e alterando as regras durante o jogo para garantir o resultado objetivado pela oposição é banalizar o poder constituído pelo povo e ameaçar as bases democráticas.
A CPI das letras, instaurada na Assembléia Legislativa catarinense, não serviu como instrumento de julgamento, de inquérito, de averiguação, já que se transformou na ferramenta de execução do governador.
Aos parlamentares da oposição parecem não interessar mais os fatos, os documentos, as defesas. Não interessa também saber que o procedimento foi juridicamente perfeito e tecnicamente correto.
Aos aspirantes do poder contam somente as suas conveniências pessoais, advindas de um afastamento de Paulo Afonso e do vice José Hülse do governo. Um governo que, eleito diretamente pela maioria absoluta do povo, reúne, com certeza, os melhores resultados até hoje contabilizados por uma administração na história de Santa Catarina. E é esse governo comprovadamente realizador e cumpridor de importantes metas para o desenvolvimento do Estado que incomoda os golpistas e dificulta suas aspirações políticas.
A votação do pedido de impeachment, matéria que deveria ser apreciada com a isenção, a justiça e a responsabilidade que merece pela importância da decisão, está agora fadada a transformar-se em um golpe de Estado. O nome "CPI das Letras" deixou de corresponder ao motivo primeiro de sua instalação; deveria agora chamar-se "CPI do Golpe".
A oposição, protagonizada no papel principal pela própria presidente da comissão, agora também a serviço do PPB, usa dos instrumentos mais condenáveis pela democracia para alcançar aquilo que almeja: o poder.
Sua mais recente investida afronta o próprio Parlamento a que pertence, na medida em que acusa seus colegas e os coloca indistintamente como seres passíveis de corrupção.
Com a desculpa de estar lançando ao público a "voz rouca dos corredores", a deputada petista tenta confundir a opinião pública ao mesmo tempo que institui um patrulhamento ao voto do tipo "quem votar contra o impeachment do governador está provando que foi comprado!"
Ora, deputada, é admirável perceber que a senhora, tão defensora da democracia e da liberdade de expressão, queira agora policiar o voto de seus colegas e condenar quem tiver uma opinião diferente da sua. Seria essa, então, a democracia do proletariado defendida pela cúpula petista?
Para o PMDB, esse tipo de comportamento não se chama democracia. O partido do governador Paulo Afonso tem para essa postura mesquinha outras definições bem menos nobres: casuísmo, oportunismo, abuso de poder, falso idealismo.
Condutas tão fortemente combatidas por aqueles que, num passado recente, diziam estar a serviço da democracia e contra o regime militar e que, no entanto, hoje se utilizam dos mesmos expedientes desenvolvidos com destreza pela ditadura.
Outra evidência de golpe foi desmascarada também há pouco tempo. A oposição, composta pela nova aliança PPB/PT e motivada pelo revanchismo da derrota nas últimas eleições, já estava afinada para rejeitar integralmente, seja lá qual fosse o teor, o relatório final. Isso porque os golpistas já possuíam um relatório substituto em mãos, confeccionado em Brasília.
Essa manobra para incriminar o governador Paulo Afonso e, sem nenhuma prova, sugerir seu enquadramento em crime de responsabilidade depõe não contra o governador mas contra o próprio Parlamento catarinense, que, ao que parece, rendeu-se definitivamente às aspirações políticas dos senadores Esperidião Amin e Vilson Kleinubing.
O desafio que nos cabe neste momento é exatamente o de impedir que as pretensões políticas da oposição sejam maiores do que o senso de justiça. E estejam certos: nós, que defendemos os princípios democráticos, que entendemos a importância deste governo na melhoria da qualidade de vida da população catarinense e que estamos do lado da ética e da justiça, não vamos permitir que a vaidade pessoal e o que há de mais ditatorial e repugnante na política tomem o lugar dos sonhos de milhares de catarinenses que votaram em 1994 por uma Santa Catarina melhor. CPI do Golpe não!

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