São Paulo, sábado, 21 de junho de 1997
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Americanos são estáveis

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O reinado dos âncoras das três grandes redes de TV nos EUA costuma ser como o dos papas: sua duração só é limitada por morte, aposentadoria ou renúncia.
Desde o início da década de 80 os norte-americanos vêem todas as noites os mesmos rostos de Dan Rather na CBS, Tom Brokaw na NBÁ e Peter Jennings na ABÁ e tudo indica que eles continuarão em seus postos até pelo menos a virada do século, assunto que nenhum dos três quer deixar de ancorar.
Com salários entre U$ 5 (Rather) e 7 milhões (Jennings) anuais, idades entre 57 (Brokaw) e 66 (Rather), os âncoras têm uma certa estabilidade, garantida por prestígio, dinheiro, tradição e distribuição equitativa da audiência.
Após oito anos de liderança, o telejornal da ABÁ perdeu o primeiro lugar em público no fim do ano passado para o da NBÁ. Mas a diferença entre os dois sempre foi muito pequena (cerca de 100 mil domicílios num total de quase 25 milhões) e a CBS, que tem ficado em terceiro há cinco anos, tem cerca de um milhão a menos de domicílios do que o primeiro lugar.
Isso não quer dizer que não se tentem mexidas para atrair público. A mais dramática dos últimos tempos ocorreu em maio de 1993, quando a CBS resolveu colocar ao lado de Rather uma co-âncora, Connie Chung, primeira mulher e primeira descendente de asiáticos a aparecer no telejornal nobre das grandes redes no lugar principal.
Rather não gostou. Mas aturou Chung por dois anos. Os índices de audiência não melhoraram e a crítica malhou o que foi classificado de mais uma tentativa de banalizar a informação. Depois de Chung ter feito um trabalho pífio como âncora em Oklahoma City nos dias seguintes ao atentado de 1995, Rather, conhecido por gostar e fazer bem a chamada "hard news" (notícia quente), deu o ultimato à CBS: "eu ou ela". Ficou o papa.
Rather é o decano dos âncoras. Em 1981, ele substituiu o próprio São Pedro, Walter Cronkite, o fundador do gênero de âncora solitário. Antes, o modelo dominante era o de duplas, como a mais famosa delas, Chet Huntley e Dabid Brinkley, na NBÁ, de 1956 a 1970.
Cronkite estabeleceu o esquema de uma só pessoa apresentando e editando o telejornal. Ele interpretava as notícias e dava opiniões rara e discretamente. Foi capaz de chorar na frente das câmeras (quando John Kennedy morreu) ou reagir como uma criança excitada (quando Neil Armstrong pisou na Lua). Mas, em geral, era sóbrio, contido e confiável, qualidades ainda consideradas elementares para um âncora bem sucedido.
Embora os três atuais sejam vistos pela maioria da audiência como possuidores das virtudes essenciais do âncora definidas por Cronkite, eles vêm perdendo prestígio e público. Pesquisas anuais mostram que boa parte dos telespectadores agora os considera cínicos demais. Por isso, os dirigentes das redes estão mais preocupados do que nunca em quem vai substituí-los no século 21.

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