São Paulo, sábado, 21 de junho de 1997
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González deixa a liderança socialista

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O ex-premiê Felipe González supreendeu ontem a Espanha ao anunciar que não é candidato a continuar na liderança do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), que dirige há 23 anos.
"Saibam que não serei candidato à secretaria-geral", disse González no discurso de abertura do 34º congresso do PSOE -no qual 945 delegados irão escolher a nova executiva do partido.
González, 55, é o mais conhecido político espanhol, apesar de ter perdido o cargo de primeiro-ministro para o conservador José María Aznar (do PP, Partido Popular) no ano passado.
O ex-premiê afirmou aos delegados do PSOE, porém, que continua "disponível para trabalhar para o projeto socialista".
A decisão de González, surpreendente porque não havia nenhuma indicação de que iria abandonar o cargo ou ameaça de não conseguir se reeleger, está sendo vista como uma manobra.
O líder chegou ao congresso tentado diminuir a tensão entre seu grupo, o "felipista", os "renovadores" que defendem novos nomes, e os seguidores de Alfonso Guerra -vice-secretário do PSOE, ex-braço direito de González e atual adversário interno.
Sua renúncia pode ser um estratagema para forçar a renúncia de Guerra, abrindo caminho para uma nova geração "felipista" ou para a própria volta do ex-premiê.
Para o momento, já começam a circular os nomes dos candidatos a substituto de González na votação dos delegados amanhã.
São eles o secretário-geral da Otan, Javier Solana, ex-chanceler de González; o prefeito de Barcelona, Pasqual Maragall; o ex-ministro José Borrell; o dirigente socialista andaluz Manuel Chavez e o ex-ministro Joaquín Almunia.
Democratização
Felipe González Marques liderou a Espanha entre 1982 e 1995, após comandar o PSOE ilegal durante a ditadura de Francisco Franco e em sua volta à legalidade.
Aos 24 anos, foi o primeiro advogado trabalhista de Sevilha, sua cidade natal, defendendo líderes sindicais presos pelo regime franquista -que se originara no fascismo da década de 30.
Nunca se exilou, embora tenha assumido o PSOE na clandestinidade durante um congresso em Suresnes (França). Tinha 32 anos e comandou o partido em duas derrotas eleitorais, em 1977 e 1979.
Neste último ano deixou a liderança por seis meses, contrariado pela resistência à sua proposta de retirar o termo "marxista" do estatuto do PSOE. Venceu e voltou.
Ganhou o poder em 1982, levando o país a um período de estabilidade. Em 1993, teve de se aliar a nacionalistas catalães para garantir maioria no Parlamento.
O acirramento da crise econômica, com o desemprego no mais alto nível da União Européia (acima de 20%), e uma série de denúncias de abuso de violência contra extremistas bascos levaram à derrota do ano passado para Aznar.

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