São Paulo, sábado, 21 de junho de 1997
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G-7 pode ligar comércio à questão ambiental

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DENVER

O governo norte-americano vai defender, na cúpula do G-7 iniciada ontem à noite, "um processo no sentido de caminhar para um conjunto de padrões comuns nos próximos anos" na vinculação entre comércio internacional e meio ambiente.
A informação foi dada ontem por Dan Tarullo, representante pessoal do presidente Bill Clinton para as reuniões do G-7, este ano transformado em "Cúpula dos Oito", já que a Rússia está participando quase integralmente. Além dela, EUA, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá, os países mais ricos do mundo, comparecem.
Na prática, trata-se de introduzir, no relacionamento comercial, o chamado "selo verde", ou seja, a garantia de que os produtos a serem exportados não afetam o meio ambiente.
É uma iniciativa que contraria frontalmente a posição do governo brasileiro. O Itamaraty diz que, sob o disfarce da proteção ambiental, o que os países desenvolvidos querem, na verdade, é proteger seus mercados contra importações provenientes de países em desenvolvimento.
A União Européia, por exemplo, já impõe o "selo verde" para a importação de produtos como calçados, de que o Brasil é exportador.
A questão ambiental não é preocupação exclusiva dos norte-americanos. A delegação alemã trouxe um pacote de idéias para serem vendidas a seus parceiros (ver quadro abaixo).
Uma delas (convenção contra a devastação florestal) também bate direto no Brasil, país frequentemente acusado de estar queimando crescentemente a floresta amazônica.
O G-7, aliás, financia um programa de preservação da floresta, cujos resultados são motivo de controvérsia na Europa.
Envelhecer e produzir
O G-7 vai intensificar, igualmente, outra discussão que interessa ao Brasil: o envelhecimento da população, o que faz com que haja cada vez menos trabalhadores ativos para sustentar aposentados por idade ou doença.
Um primeiro ensaio de discussão foi lançado na cúpula anterior pelo primeiro-ministro japonês, Ryutaro Hashimoto, certamente por ser o Japão o país cuja população está envelhecendo mais rapidamente entre os grandes.
Em 1995, havia 4,9 trabalhadores ativos para cada aposentado. No ano 2030, haverá apenas 2,2 ativos.
O curioso é que, no Brasil, de população bem mais jovem, o governo diz que essa proporção (2,2 ativos para cada passivo) é exatamente a que existe hoje, motivo pelo qual propôs a reforma previdenciária.
O que se discute no G-7 é o "envelhecimento produtivo", ou seja, criar condições para que os idosos continuem produzindo mesmo após atingida ou ultrapassada a idade da aposentadoria.
Finanças
Outro tema destacado na agenda é o sistema de prevenção de crises financeiras.
Os líderes do G-7 devem referendar um conjunto de normas básicas para a saúde do sistema financeiro, já acertadas no âmbito do BIS (Banco de Compensações Internacionais, uma espécie de banco central dos bancos centrais).
A decisão vem na esteira de um punhado de crises nessa área, que começaram com o México e terminaram, por enquanto, com a Albânia, país que chegou à beira da anarquia com a ruína das chamadas "pirâmides" financeiras.
O argumento é o mesmo utilizado no Brasil para a criação do Proer, o sistema de ajuda ao sistema bancário: "A principal preocupação das autoridades é o risco sistêmico, a possibilidade de que a quebra de uma grande instituição financeira ou distúrbios em um país tenham efeitos contagiosos em outras firmas ou países", diz Larry Summers, subsecretário norte-americano do Tesouro.
O custo de tais crises é enorme: nos EUA, por exemplo, a quebra de empresas de poupança e empréstimo custou 3% do PIB (Produto Interno Bruto, medida da riqueza de um país).

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