São Paulo, domingo, 22 de junho de 1997
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Números revelam furos no crescimento

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL A DENVER

Nem o otimismo que o ofício exige impede que até o secretário norte-americano do Tesouro, Robert Rubin, admita que o modelo tem lá seus problemas.
Ao falar na terça-feira sobre a cúpula, Rubin reconheceu que há "estagnação salarial em, digamos, os 50%, mais ou menos, dos que estão na parte de baixo do espectro salarial".
Estagnação é dizer pouco. Em 1995, o salário semanal líquido do trabalhador industrial era, na média, de US$ 475, menos do que a média de 16 anos antes (US$ 495).
O crescimento da economia, nos últimos sete anos, não se transmitiu para a renda familiar, que subiu, pela primeira vez, apenas no ano passado. Desde 1975, mantém-se estagnada em torno de US$ 40 mil.
E assim mesmo só subiu porque os trabalhadores passaram a fazer horas extras ou tiveram que pegar um segundo emprego ou empregar mais de uma pessoa na família (58% das famílias dependem de dois ou mais rendimentos).
O que, sim, aumentou foi a desigualdade, como assinalou Reich: em 1975, os 20% mais ricos ficavam com 43% da renda do país. Vinte anos depois, abocanhavam 49%. Tais números, entre outros, desmentem a manchete ufanista de "The Wall Street Journal" sobre as lições que os Estados Unidos poderiam ensinar aos outros, especialmente os europeus.
Custos e benefícios
"É verdade que os EUA criam mais empregos do que os países europeus, mas eles criam também mais desigualdades. A brecha entre os 10% mais bem pagos e os 10% mais mal pagos é de 1 para 6, ao passo que na Europa é de apenas 1 para 3", diz o francês Jean Boissonnat, que presidiu uma comissão encarregada de preparar relatório sobre as perspectivas do emprego no século 21.
Talvez por isso, o próprio Clinton tenha mudado de tom, ao menos na frente do presidente francês Jacques Chirac, na sexta-feira.
Quando, ao lado de Chirac, lhe perguntaram que mensagem teria aos franceses e europeus a respeito de uma economia melhor para a Europa, Clinton saiu-se com um prodígio de equilibrismo:
"O truque é como ter suficiente disciplina fiscal e flexibilidade para o crescimento dos empregos e crescimento econômico, ao mesmo tempo que se preserva uma rede de proteção social para o povo."
Esse, sim, é o modelo ideal. Mas nem a Europa nem os EUA conseguiram, até agora, transformá-lo em realidade.

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