São Paulo, domingo, 22 de junho de 1997
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"Morro de saudade da minha mulher"

Para quem ainda acredita que os homens não sofrem tanto a morte de suas mulheres como ocorre quando elas perdem seus maridos, a história do surfista Pedro Miller, 30, pode ser a melhor maneira de provar sua sensibilidade.
Miller perdeu sua mulher aos 27 anos, logo após o parto de sua única filha, Giulia, que hoje tem 3 anos.
"A primeira reação é não ter reação", conta. "Não dá para acreditar que esteja acontecendo isso, muito menos com você", diz.
Entre as coisas mais difíceis de se aceitar, Miller aponta a falta da pessoa no dia-a-dia. "Quiando você faz tudo com alguém, é duro se acostumar sem ela. O primeiro ano é muito difícil, é difícil demais desacostumar a fazer tudo o que fazia com aquela pessoa, passar as datas importantes sem a pessoa. O segundo ano já é um pouco mais fácil, a gente vai se acostumando aos poucos."
Passados três anos, ele ainda não quer falar em outros namoros, diz que ainda "morre de saudades" da mulher e mostra para todo mundo a tatuagem que fez do rosto de Elaine em seu abdômen.
Para suprir a falta, Miller voltou todas as atenções para a filha e para a carreira no surfe. "Não tive tempo para me entregar ao desespero, porque tinha uma filha para criar. Se não tivesse a Giulia, não teria resistido. É impossível ficar triste ao lado dela", afirma.
O surfista gosta de dizer, no entanto, que sua vida começou depois da "tragédia". Isso porque conseguiu chegar ao "o topo de sua carreira": disputar um campeonato em Pipeline ao lado dos melhores surfistas do mundo.
Mesmo essas oportunidades, o surfista não atribui à sorte ou ao seu mérito profissional: "Tenho certeza que tem a mãozinha da Elaine nisso, ela deve estar me ajudando lá de cima", acredita.

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