São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 1997
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Direitos humanos saem para as ruas

THALES DE MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

Você já deve estar cansado de ouvir que "todo homem tem direito a saúde, educação..." e de saber que, na prática, a coisa é bem diferente. A política do "levar vantagem em tudo" impera.
Por isso, discutir direitos humanos pode parecer a coisa mais utópica do mundo, para não dizer chata. Mas tudo muda de figura quando os conceitos de cidadania saem dos textos pomposos e etéreos para, efetivamente, entrar no seu dia-a-dia.
Essa é uma constatação das entidades e pessoas engajadas na conscientização dos direitos humanos no Brasil. Uma luta que ganha cada vez mais ações concretas. Em Brasília, por exemplo, a partir de agosto, os alunos de 2º grau terão uma hora por semana de debate sobre direitos humanos.
A iniciativa aparece mais de um ano depois de o presidente Fernando Henrique Cardoso lançar o Plano Nacional de Direitos Humanos, que fala em "dar apoio à discussão dos direitos humanos nas escolas, em todos os níveis".
Mas falta muito para o governo pôr a proposta em prática. No Ministério da Educação, a inclusão de direitos humanos como disciplina ainda nem entra no planejamento de mudanças no currículo.
Se esperar o governo agir não anima, o negócio é começar de baixo, levar a discussão para a aula, a vizinhança, o clube... Não confundir direitos humanos com liberdade de fazer o que bem entender, como mostraram alguns depoimentos abaixo.
Segundo Justin Frilanz, médico e militante da Cruz Vermelha Internacional, o importante é agir. "Discutir direitos humanos é combinar rodízio de carro, horário para festas barulhentas em prédios... Tudo o que você faz e pode afetar os outros deve ser analisado para evitar o desrespeito."
Para ele, a omissão é a maior inimiga de uma boa política de cidadania. "Você não é um espectador do mundo, você faz parte dele", diz, citando lema do grupo internacional Médicos Sem Fronteiras.
O norte-americano Doug Harliss, da Human Rights Watchers, apela para que as pessoas incluam os debates sobre cidadania em todas as áreas da vida, mas defende que a escola continua sendo a principal trincheira dessa luta.
"Os estudantes brasileiros não precisam ficar esperando uma decisão do governo. Basta reunir os colegas e pedir um espaço na escola que permita a reflexão sobre cidadania, qualidade de vida e outras questões modernas", diz.
Resumindo: você pode pedir um espaço para o debate. Não há lei que obrigue a escola a acatar, mas se professores e diretores estiverem antenados com questões contemporâneas, vão liberar.
A única restrição imposta é a de que nenhuma aula do currículo oficial seja substituída pelo debate. Este precisa ser uma atividade a mais no dia dos alunos.
"Vale a pena cavar um espaço. Ninguém vai morrer por ficar uma hora a mais na escola, e todos vão ver como isso vai melhorar a vida", diz Vanessa Gullo, 16, que passou um abaixo-assinado em sua escola para conseguir um horário no anfiteatro.
Leia mais na pág. 6-6

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