São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 1997 |
Próximo Texto |
Índice
EUA e Europa divergem em cúpula
CLÓVIS ROSSI
Na verdade, o G-7 é agora "Cúpula dos Oito", porque incluiu a Rússia, ao lado de EUA, Japão, Alemanha, França, Itália, Reino Unido e Canadá. Nem mesmo as habituais cautelas diplomáticas foram suficientes para evitar que os dois lados expusessem ao público as divergências. Robert Rubin, secretário norte-americano do Tesouro, abriu a discussão entre os ministros das Finanças dizendo que os EUA falavam "com sólida credibilidade sobre temas econômicos", em função dos números positivos de sua economia. Mas Yves-Thibault de Silguy, ministro da UE (União Européia) para as Finanças, desfilou, em seguida, um punhado de números para tentar provar que a Europa não vai tão mal assim. Entre eles, uma inflação muito baixa (em torno de 2%), a redução do déficit orçamentário (no conjunto dos 15 países da UE, de 6,3%, em 1993, para 4,2%, no ano passado) e uma perspectiva de crescimento econômico de 2,4% em 97. Depois, em entrevista coletiva, Silguy ironizou: "Não há, pois, razão para exibir triunfalismo (por parte dos norte-americanos)". Em outra sala do Centro de Convenções de Denver, quartel-general da mídia, Mike McCurry, porta-voz do presidente Bill Clinton, insistia: "Podemos dizer que há coisas que parecem instrutivas sobre a experiência norte-americana. Há, francamente, coisas que são diferentes em outros países". Alusão velada ao protecionismo social europeu, que é considerado a fonte do elevado desemprego, o dobro do norte-americano. Contra-ataque de Jacques Santer, presidente da Comissão Européia, braço executivo da UE: "Um modelo pode ser bom para a Europa, e outro, para os EUA. A Europa faz questão de preservar a solidariedade, a coesão social e a proteção aos excluídos". Meio ambiente e África Não ficou nisso. McCurry admitiu que houve "uma vigorosa discussão" entre os governantes em torno do programa de ajuda à África, proposto pelos EUA. O programa prevê a abertura dos mercados do mundo rico para o comércio africano e investimentos no continente, mas limitados a países que cumpram o ritual das reformas liberalizantes. "Apoiamos a iniciativa, mas sem tantos condicionamentos, que dificultam o progresso", reagiu Nikolas van der Pas, porta-voz da União Européia. EUA e Europa tampouco se entendem na proteção ao meio ambiente. Os europeus querem metas e datas para reduzir a emissão de monóxido de carbono, o gás que provoca o efeito estufa e o consequente aquecimento do planeta. Querem também uma convenção para conter a devastação das florestas. Os EUA se opõem (leia nesta página). A divergência foi tão nítida que o presidente francês, Jacques Chirac, não se acanhou em chamar os EUA de "o maior poluidor". Tudo somado, os EUA desagradaram a quase todos os seus velhos aliados, mas, ironicamente, deram todo o carinho ao antigo inimigo, a Rússia, na figura de seu presidente, "meu amigo Boris", como Clinton costuma tratá-lo. Até no cerimonial, a falha atingiu um europeu, justamente o estreante em G-7, o premiê britânico, Tony Blair. Ele foi o único a ficar sem a cadeira, grande e de espaldar alto, que todos os seus colegas ocuparam na primeira reunião de trabalho, no sábado. Teve de sentar-se, por alguns minutos, em cadeira normal, o que o deixava abaixo dos demais, até que a cadeira nobre fosse localizada. Próximo Texto: Ricos marcam nova reunião especial sobre emprego Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |