São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 1997
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Julgamento terá 'guerra de testemunhas'

LUCAS FIGUEIREDO
AUGUSTO GAZIR

LUCAS FIGUEIREDO; AUGUSTO GAZIR
ENVIADOS ESPECIAIS E PLANALTINA (DF)

Economista que denunciou esquema de corrupção no Congresso é acusado de ter mandado matar sua mulher

O julgamento do ex-diretor de Orçamento do Congresso José Carlos Alves dos Santos, 55 -acusado de mandar matar, em 92, sua mulher, Ana Elizabeth Lofrano-, começa hoje com uma prometida "guerra" de testemunhas.
Os advogados do economista planejam levar ao fórum de Planaltina duas testemunhas de impacto: Adriana Lofrano Alves Porto, filha do réu e da vítima, e o capitão da PM Leonardo Moraes, que promete um depoimento surpresa, trazendo fatos novos.
A defesa espera que o depoimento da filha do casal sensibilize os jurados e faça o contraponto em relação ao mais forte elemento contra Alves dos Santos: a confissão dos autores do crime.
O detetive Lindauro da Silva e o mecânico Valdei de Souza confessaram a autoria do crime e apontaram o economista como mandante. Pegaram 21 anos e 16 anos de prisão, respectivamente.
Contra Alves dos Santos também pesa o fato de um dos matadores de sua mulher ter prestado serviços para ele antes do crime.
A filha do casal que vai depor chegou a fazer uma carta aberta pedindo isenção no julgamento e afirmando que o que existe contra o pai são "suspeitas". Na carta, Adriana não afirma se o economista é inocente ou culpado.
Cópias da carta chegaram até os 21 moradores de Planaltina escolhidos como possíveis jurados. A composição final do júri só será conhecida no início do julgamento. Serão sorteados sete jurados.
"O detetive e o mecânico realmente mataram Ana Elizabeth, mas dizer que José Carlos foi o mandante é outra história", afirmou o advogado do réu, Joaquim Flávio Spindula, que sustenta a tese de que Ana Elizabeth foi morta pelos "anões do Orçamento".
O promotor Zacharias Mustafa Neto arrolou como testemunhas da acusação duas pessoas que trabalharam na investigação da Polícia Civil: o perito Aloísio Trindade e o delegado Luís Julião Ribeiro, que deve contar que chegou até os assassinos investigando as relações deles com Alves dos Santos.
Já a defesa vai trazer o perito Aidano José de Faria, que produziu um laudo paralelo sobre o caso.
Para tentar convencer que o ex-diretor do Orçamento era um homem que tinha muitas amantes, a defesa convocou duas delas para depor: a própria Crislene e Christiane Vieira da Silva.
CPI do Orçamento
José Carlos Alves dos Santos ganhou notoriedade quando, em 1993, revelou a existência de um esquema de corrupção na Comissão de Orçamento do Congresso, operado por ele e dirigido por deputados federais.
A revelação ocorreu após a Polícia, investigando o desaparecimento de sua mulher, ter encontrado US$ 300 mil em notas falsas em sua casa.
A denúncia gerou a CPI do Orçamento, que resultou na cassação de seis parlamentares e renúncia de outros quatro. Os parlamentares ficaram conhecidos como os "anões do Orçamento".
O mais notório foi João Alves (PMDB-BA), ex-presidente da comissão do Orçamento, que renunciou ao seu mandato.

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