São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 1997
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Música instrumental busca novos ouvidos

EDSON FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Inaudível nas rádios, com pouco espaço na TV e sem muita divulgação, a música instrumental brasileira está conseguindo sobreviver longe da mídia.
Algumas mudanças na postura empresarial, a entrada de músicos na direção das gravadoras e o redimensionamento de metas têm barateado custos e tornado tiragens de meras 3.000 cópias (média no setor) viáveis.
Gravadoras como Velas (do cantor e compositor Ivan Lins, em sociedade com Vitor Martins), Tom Brasil (do violonista André Geraissati, ex-Dalma) e Eldorado receberam no ano passado o reforço do selo Núcleo Contemporâneo.
Formado pelo saxofonista Mané Silveira, o pianista Benjamim Taubkin, o saxofonista e flautista Teco Cardoso e o acordeonista Toninho Ferragutti, o Núcleo Contemporâneo quer ser mais do que uma gravadora.
Além de produzir CDs dos quatro músicos associados e de novos talentos, o selo criou um centro cultural e ajuda a formar outros músicos promovendo workshops.
Neste mês, por exemplo, a empresa organizou um workshop com o percussionista Naná Vasconcelos e outro com o zabumbeiro Zezinho Pitoco.
Além disso, o centro cultural do Núcleo Contemporâneo promove mostras de vídeo, fotografia e artes plásticas. "A intenção é misturar linguagens e públicos", diz Benjamim Taubkin, 40.
O braço mais visível do Núcleo, contudo, é mesmo o de gravadora.
Em sua primeira fornada, o selo colocou na praça três discos que registram apresentações dentro do projeto Memória Brasileira ("Violões", "Arranjadores" e "Memória do Piano Brasileiro").
Outros dois títulos são de associados da gravadora: "Meu Brasil", de Teco Cardoso, e "Bonsai Machine", de Mané Silveira. Completa a primeira fornada o CD "Viva Garoto".
Depois de quase um ano desde o início das atividades, a gravadora mostra sinais de vigor -dentro dos parâmetros do mercado instrumental, bem entendido.
Segundo Taubkin, o custo de produção das primeiras 10 mil cópias de um CD na Núcleo Contemporâneo fica entre US$ 10 mil e US$ 15 mil.
"Se vendermos 2.000 cópias de determinado título, já garantimos pelo menos o retorno do capital investido."
Procurando não dar passos maiores do que as pernas, a Núcleo Contemporâneo aprendeu com os erros de outras gravadoras no passado e trata cada disco como um projeto separado.
"É a diferença entre a delicatessen e o supermercado. Aqui, nós podemos passar muito mais tempo melhorando o som de cada disco", diz Taubkin .
O trabalho não termina com a gravação do CD. Segundo o pianista, os sócios da gravadora gostam de burilar os projetos gráficos das capas e encartes.
"A idéia inicial era trabalhar apenas com papel reciclado, mas o uso desse tipo de material é inviável no Brasil."
Os sócios do Núcleo dizem dizem que as vendas estão servindo apenas para pagar o investimento."Estávamos conscientes que, durante algum tempo, iríamos apenas injetar dinheiro no projeto", diz Taubkin.

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