São Paulo, sábado, 28 de junho de 1997
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Pistoleiro se contradiz durante julgamento de fazendeiros no MA

IRINEU MACHADO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM IMPERATRIZ (MA)

A principal testemunha de acusação no julgamento do assassinato do padre Josimo Moraes Tavares, o ex-jornaleiro Geraldo Rodrigues da Costa, 42, tentou ontem inocentar três dos seis fazendeiros acusados como mandantes do crime. Ao final, porém, acabou se contradizendo em alguns pontos.
Tavares, que era coordenador da Comissão Pastoral da Terra na região do Bico do Papagaio (norte do Tocantins), foi morto em 15 de maio de 1986 na cidade maranhense.
O julgamento de Guiomar Teodoro da Silva, Adailson Gomes Vieira e Geraldo Paulo Vieira, três dos seis fazendeiros apontados como mandantes do crime, começou ontem em Imperatriz.
Geraldo Rodrigues da Costa foi condenado em 1988 a 18 anos e 6 meses de prisão depois de confessar que matou o padre a pedido de um grupo de fazendeiros da região do Bico do Papagaio.
Quando foi preso, revelou os nomes de seis mandantes e do co-autor do crime, Vilson Cardoso -que se encontra foragido.
Ontem, porém, respondeu às primeiras perguntas feitas pelo juiz José Américo Abreu Costa dizendo que não se lembrava do envolvimento dos três acusados que estavam sendo julgados.
Apreensão
O ex-jornaleiro procurou concentrar as acusações no fazendeiro Osmar Teodoro da Silva, que se encontra foragido desde a época do crime.
Diante de sucessivas respostas dizendo que não se lembrava, ele causou apreensão aos representantes do Ministério Público e ao principal assistente de acusação, o deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP).
Greenhalgh chegou a se levantar para acompanhar as respostas de Costa.
O promotor de Justiça Márcio Thadeu pediu à testemunha que mantivesse as declarações prestadas anteriormente em juízo.
"O senhor já disse em outras ocasiões que não consideraria correto pagar sozinho por esse crime", disse o promotor ao ex-jornaleiro.
Confirmação
Mais tarde, porém, ao responder perguntas mais diretas dos assistentes de acusação, Costa acabou confirmando a participação de dois dos acusados, o fazendeiro Geraldo Paulo Vieira e seu filho, Adailson Gomes Vieira.
Nesse dia, o Toyota dirigido por Tavares recebeu cinco tiros. O atentado foi obra do próprio Costa e de Vilson Cardoso. Os dois também foram cúmplices no assassinato.
Mas Costa manteve-se firme em inocentar o fazendeiro Guiomar Teodoro da Silva. "Eu nunca o vi antes, não o conheço e não sabia que ele estava preso", disse.
O fazendeiro Osmar Teodoro da Silva, um dos irmãos de Guiomar, foi o principal acusado pelo ex-jornaleiro.
"Meus contatos eram todos com o Osmar. Não me lembro de quem participou dos outros encontros."
Ao final de seu testemunho, Costa declarou ao juiz que, se algo acontecesse com seus parentes em Goiânia, os responsáveis seriam Geraldo e Adaílson, que lhe teriam mandado recados com ameaças.
Os advogados de defesa protestaram contra as intervenções do Ministério Público, dizendo que a testemunha estava sendo induzida nas perguntas.
O juiz afirmou que não viu indução.
Vingança
Sebastião Teodoro da Silva, irmão de Guiomar e Osmar, havia morrido baleado em um conflito na região uma semana antes da morte do padre.
Mas os acusados negaram ter tramado a morte do padre e também disseram desconhecer se o crime tinha conotação de vingança pela morte de Sebastião.
Guiomar Silva chegou a chorar enquanto era interrogado.
Entre as peças do processo lidas a pedido da defesa, chamou a atenção dos jurados uma denúncia do Ministério Público de Itaguatins (TO), acusando o padre Josimo Tavares e outras cinco pessoas de participação no assassinato de duas pessoas numa emboscada no Bico do Papagaio, em um conflito de terra ocorrido na região em 84.
O julgamento está previsto para terminar na tarde de hoje.

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