São Paulo, sábado, 28 de junho de 1997
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Goleada mentirosa

JUCA KFOURI

Sete é conta de mentiroso, e o número veio a calhar como explicação da goleada brasileira sobre os meninos reservas do Peru.
Foi mais ou menos como se o time de estrelas da NBA enfrentasse uma seleção juvenil do basquete brasileiro.
Nada que se compare, por exemplo, às goleadas impostas pelos meninos do Brasil aos seus adversários no Mundial da Malásia, aí sim alguma coisa de impressionante.
Pois amanhã o futebol brasileiro estará diante de dois desafios: os garotos argentinos e a altitude boliviana.
O primeiro é menos complicado, porque será disputado em igualdade de condições e o momento melhor é brasileiro, tanto que a Argentina até já perdeu para a Austrália.
O segundo é, hoje, quase impossível de ser superado.
Não que o time boliviano assuste, porque é tão ruim que sequer deve se classificar para a Copa do Mundo, ou seja, não está nem entre as cinco maiores forças do futebol sul-americano.
Mas a Bolívia já não é tão fraca como antes, quando era possível batê-la mesmo jogando geograficamente pertinho do céu e fisicamente a um passo do inferno.
Tivéssemos uma comissão técnica moderna, e a escalação da equipe seria ponderada entre as preferências do técnico e as indicações dos jogadores pelas suas capacidades físicas, a cargo do médico e dos preparadores.
Seja, portanto, qual for o resultado em La Paz, o futebol será o de menos.
É claro que uma vitória brasileira contra a altitude, agora, merecerá entrar para a história, mas o jogo terá pouca valia para o balanço da seleção nesta fase.
Uma temporada que começou vexaminosamente na Noruega, que teve um momento pálido diante da França, que seguiu entusiasmadamente na reação diante da Itália no segundo tempo e terminou de maneira aceitável na vitória diante da Inglaterra.
Porque, de resto, na Copa América, o time só enfrentou aquelas mesmas galinhas mortas que tanto nos iludiram às vésperas dos Jogos Olímpicos e do próprio Torneio da França, ambos perdidos sem desculpas.
E amanhã, vale repetir, a seleção jogará não contra um time, mas contra a tontura, a vertigem, a falta de ar, a menor oxigenação do cérebro -o que explica até aquele célebre frango de Taffarel quando o Brasil perdeu a invencibilidade em jogos de eliminatórias da Copa, em 1993.

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