São Paulo, sábado, 28 de junho de 1997
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Liberdade de culto preocupa religiosos

CAROLINE PUEL
DO "LE MONDE", EM HONG KONG

Há 15 anos Hong Kong tornou-se o segundo maior pólo cristão na Ásia, perdendo apenas para as Filipinas. Mais de 250 mil católicos e 160 mil protestantes se declaram praticantes, numa população total de 6,5 milhões.
Mas a margem de manobra dos fiéis tornou-se incerta. Em princípio, as autoridades chinesas garantiram que a liberdade de religião será mantida em Hong Kong "por 50 anos". Um artigo específico a esse respeito, longamente negociado entre a China e o Reino Unido, chegou a ser incluído na mini-Constituição que vai reger Hong Kong a partir da semana que vem. "Mas tudo vai depender da interpretação dada aos textos", diz o padre Sylvain Rabiller, missionário responsável pela paróquia francesa. É o comitê permanente da Assembléia Nacional chinesa, sediada em Pequim, que terá poderes para interpretar o texto e adicionar possíveis emendas.
Há indícios de que Pequim sente a tentação de controlar os meios religiosos -sobretudo os católicos, vistos com mais preocupação, em razão de seus vínculos com a autoridade superior do papa e do Vaticano, que os levaria a fugir espiritualmente das fronteiras nacionais.
Uma das primeiras preocupações dos comunistas, depois de assumirem o poder, em 1949, foi obrigar os católicos a romper seus contatos com Roma, reconhecer o Partido Comunista e criar uma "igreja patriótica". Aqueles que se recusaram a fazê-lo foram obrigados a ingressar na "igreja subterrânea" e na clandestinidade. Hoje, segundo o Vaticano, mais de 8 milhões de chineses continuam integrando a "igreja subterrânea", apesar das campanhas de intimidação e prisões das quais são alvo.
Por enquanto, pelo menos, Pequim se limita a testar as reações patrióticas. Os representantes das seis religiões reconhecidas em Hong Kong (católicos, protestantes, muçulmanos, budistas, confucionistas e taoístas) foram convidados a preparar as cerimônias do próximo dia nacional chinês, no dia 1º de outubro. Os chefes das três religiões "chinesas" atenderam ao convite, mas os católicos o recusaram, diplomaticamente.
Na semana passada o Vaticano protestou contra uma nova lei que está sendo cogitada para Hong Kong, visando proibir subsídios estrangeiros a partidos e associações. É uma ameaça direta aos católicos, grande parte de cujo financiamento vem de Roma.
Apesar de dizerem não acreditar na perspectiva de uma igreja clandestina em Hong kong, os católicos vêm se reunindo em pequenos grupos de oração nas casas de particulares, desde o início da década. Concebidos oficialmente para atender a necessidades práticas, esses grupos permitiriam, se fosse preciso, manter redes discretas e organizadas de fiéis.
O superior regional dos jesuítas, o padre irlandês Alfred Deignan, não alimenta ilusões. "Temos a garantia de podermos continuar a existir, mas seria loucura pensar que não haverá mudanças", diz.

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