São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997
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"E la Nave Va", de Fellini, é a próxima atração da coleção

Filme do diretor italiano estará nas bancas no dia 6

DA REDAÇÃO

"E la Nave Va" -a fita que circula com o jornal no próximo domingo- traz à "Videoteca Folha" o trabalho de um dos maiores cineastas de todos os tempos, o italiano Federico Fellini (1920-1994).
O filme representa o ritual de dispersão das cinzas de uma diva da música lírica. Para tanto, um navio de luxo parte, pouco antes da Primeira Guerra Mundial, levando a bordo os convidados, com destino às proximidades da ilha em que nasceu a cantora.
Fellini definiu seu trabalho como "uma verdadeira viagem ao mar, a fim de cumprir um ritual que testemunha uma profunda nostalgia por alguma coisa que não existe mais". Como acontece com frequência, o cineasta faz o navio navegar à mercê de enigmas que vai introduzindo.
Nessa nave, ele carregou um rinoceronte, imagem de uma antiga forma de vida, uma "criatura insólita, oculta", como ele próprio definiu, e que pode simbolizar tanto a diva morta como a Europa do primeiro pré-guerra.
Ao mesmo tempo em que mostra um ritual de dissolução, Fellini reafirma o primado da memória: espaço em que as coisas permanecem, resistindo à própria morte.
Comparado ao seu primeiro e segundo momentos -o humor e lirismo de "Os Boas-Vidas" (1953) e a radical fase de "Satyricon" (1969)- ""E la Nave Va" se apresenta como o filme do ajuste, como se Fellini encontrasse o equilíbrio, impondo limites aos seus excessos, sem abdicar da liberdade poética e anti-realista de seus trabalhos.
"E la Nave Va", obra-prima realizada em 1983 numa co-produção franco-italiana, foi também descrita como um dos trabalhos mais barrocos do cineasta.
Tudo acontece como se o funeral da diva fosse a grande ocasião para Fellini fazer o mais operístico de seus trabalhos.
Ajudado pela cenografia irreal e pela fotografia de Giuseppe Rotunno, o cineasta transformou a memória em espetáculo em "E la Nave Va".

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