São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997
Texto Anterior | Índice

30% das cirurgias do coração são evitáveis

Infecção mal curada é responsável por cardiopatia

NOELLY RUSSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Começa hoje o 4º Congresso Mundial de Cardiologia Preventiva em Montreal (Canadá). Um dos principais temas da conferência será abordado pelo cardiologista brasileiro Aloysio Achuti: cardiopatias reumáticas.
São problemas no coração provocados por uma infecção mal tratada. A infecção passa ao fluxo sanguíneo e chega ao coração, que acaba atingido.
"Atualmente no Brasil 30% das cirurgias cardíacas são feitas por esse tipo de problema. Essas doenças cardíacas são mais comuns em países em desenvolvimento. Uma dor de garganta, por exemplo, se não for curada, pode acabar chegando ao coração. O mesmo com uma cárie", disse Achuti.
O sétimo Relatório Anual de Saúde da Organização Mundial da Saúde, órgão ligado às Nações Unidas, aponta que 500 mil pessoas morreram em todo o mundo por problemas cardíacos reumáticos e febres reumáticas no ano passado.
Segundo Achuti, além das infecções mal curadas, outros fatores acabam criando problemas de coração que poderiam ser evitados.
"Hábitos mais saudáveis de vida, por exemplo, são meios baratos e eficazes para manter não só o coração, como o resto do corpo salutar."
Para o também cardiologista e presidente do Congresso Internacional de Cardiologia, que será no Rio, em 98, Mario Maranhão, 58, a prevenção de doenças cardíacas não depende mais só do paciente.
"Cardiologistas brasileiros fizeram um documento que será apresentado em Montreal. O 'Documento de Gramado' pede uma política de saúde que não exclua as pessoas", diz ele.
O documento aponta medidas consideradas necessárias por cardiologistas para evitar doenças e mortes por problemas no coração.
Uma das causas para o grande número de pacientes com cardiopatias reumáticas é a falta de atendimento adequado de saúde. "No mundo inteiro, os mais pobres sofrem mais as consequências das doenças. No Brasil é o mesmo.
Uma prova disso é exatamente o percentual de cirurgias provocadas por esse tipo de problema cardíaco, que é maior em países em desenvolvimento", diz Achuti.
Segundo Maranhão, mortes por eventos cardíacos no Brasil acontecem mais cedo que em países de Primeiro Mundo. Segundo ele, nos EUA, 17% das mortes por problemas cardíacos ocorrem em pessoas com menos de 55 anos. No Brasil o percentual sobe para 38%.

Texto Anterior: Policiais querem mais direitos humanos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.