São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997
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Negri retorna à Itália depois de 14 anos e deve ser preso

ROBERTA BARNI
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE ROMA

Na próxima terça-feira, 1º de julho, o filósofo e cientista político Toni Negri deixará Paris e voltará pela primeira vez a seu país, a Itália, após 14 anos. Para ele, esta viagem representa o fim de um longo exílio e, ao menos de início, a volta à prisão.
Destacado intelectual de esquerda, após vários processos ao longo da década de 80, Toni Negri foi condenado no total a 13 anos de prisão, acusado de associação subversiva e organização de grupos de guerrilha urbana. Desta condenação, Negri já descontou quatro anos e três meses. Só foi libertado em junho de 1983, após ter sido eleito deputado pela legenda do pequeno Partido Radical. Logo em seguida, porém, o Congresso aprovou a retirada de sua imunidade parlamentar. Antes de ser preso mais uma vez, Negri refugiou-se na França.
Em 1986 e 1988, o Congresso italiano aprovou dois decretos de indulto para os presos. Mesmo assim, Negri ainda tem para descontar 3 anos e 10 meses de prisão. É provável que só fique preso por alguns dias ou, na pior das hipóteses, algumas semanas: a lei italiana prevê a possibilidade de prisão-aberta para todos os condenados que já tenham descontado mais da metade da pena.
Em depoimento a Marta Avancini, da Folha, Negri negou as acusações e afirmou que foi transformado em "bode expiatório". Para o filósofo, o seu retorno é um ato político e pessoal. "Voltando à Itália vou chamar a atenção para um problema que andava meio esquecido. É preciso colocar um fim aos anos de chumbo", disse.
O caso de Toni Negri é emblemático dos chamados "anos de chumbo". Desde o começo da década de 70 até meados dos anos 80, a Itália viveu uma situação de permanente convulsão política, ensanguentada pelo terrorismo, de direita e de esquerda. Houve algumas centenas de mortos e milhares de feridos. Os episódios mais graves foram o sequestro e assassinato do líder democrata-cristão, Aldo Moro, pelas Brigadas Vermelhas (BR), em 1978, e a bomba explodida por terroristas neofascistas na estação ferroviária de Bolonha, em 1980, que matou 82 civis.
O anúncio do regresso de Negri causou grande repercussão na imprensa e no cenário político italiano, recolocando em debate o problema das centenas de prisioneiros políticos ainda presos. "Toni Negri está voltando para ajudar a pôr um ponto final nos anos de chumbo", diz Mauro Palma, responsável da associação Antigone pelos direitos no sistema penal.
"No nosso país travou-se uma guerra civil. Agora, é necessário encerrar este período doloroso da história com uma anistia: é um instrumento político, não um ato de perdão", declarou o ex-presidente da República Francesco Cossiga, que foi ministro do Interior nos anos mais duros do terrorismo.
Para Armando Spataro, magistrado cujas investigações levaram à condenação definitiva de Negri, a notícia da sua volta "só pode ser vista favoravelmente, porque todos os que, condenados definitivamente, regressam por vontade própria, reconhecem as leis italianas".

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