São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997
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Albânia vota hoje à sombra do caos

ANDREW GUMBEL
DO "THE INDEPENDENT", EM LONDRES

As eleições parlamentares de hoje na Albânia serão pouco livres, pouco justas e pouco democráticas. O país está chegando ao fim de uma campanha dolorosamente tensa, na qual as balas e as granadas falaram muito mais alto.
Muitas regiões se encontram sob o controle de bandos armados. As ruas de muitas cidades permanecem silenciosas, mesmo à luz do dia. Os poucos comícios eleitorais promovidos foram marcados pela violência ou pela tensão.
Apesar disso, Franz Vranitzky, o enviado especial internacional, tem razão quando afirma que esta é a última chance para a democracia na Albânia. O realismo dita que o país precisa de um governo que inspire um mínimo de confiança, ou as gangues nunca irão depor suas armas, as forças de segurança continuarão polarizadas segundo linhas políticas, e o aparato do Estado vai permanecer como está desde que a autoridade do governo começou a desmoronar, em março passado: impotente.
Os monitores eleitorais, coordenados pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento da Europa (OCDE), representada por Vranitzky e contando com o apoio de membros da força multinacional de paz, estão espalhados por 13 dos distritos do país.
Na quinta-feira os principais partidos políticos chegaram a um acordo sobre o principal obstáculo -o horário de fechamento das urnas, no domingo à noite. A oposição, que defendia que fossem fechadas às 18h, e não às 21h, saiu vencedora, depois de argumentar que, se os votos fossem contados à noite, os partidários de um ou outro lado poderiam se sentir tentados a cometer fraude em grande escala, do tipo que sabotou as eleições do ano passado.
Apesar dos temores de que grandes áreas do território nacional ficassem indefesas, a comunidade internacional interditou apenas três cidades dominadas pelas gangues armadas, todas situadas na zona central do país: Cerrik, Gramsh e Ballsh. As áreas onde pipocaram a revolta armada contra o governo na primavera -Vlorë, Sarandë e Gjirokastër- serão patrulhadas e monitoradas.
A ameaça de violência no dia das eleições é grande, num país onde mais de 1.500 pessoas foram mortas nos últimos três meses. Semana passada, um comício do presidente Sali Berisha, em Lushnjë, foi marcado por tiros e uma morte, enquanto em Vlorë ocorreu uma batalha campal na qual o candidato socialista local, Arben Malaj, foi obrigado a se refugiar num ginásio de esportes até ser socorrido por tropas italianas. Enquanto isso, o pai de uma candidata no sul do país foi sequestrado e ameaçado de morte se sua filha não desistisse.
Mesmo que as eleições produzam um resultado digno de crédito e que seja aceito por todas as partes, os problemas da Albânia não terão terminado. O clima reinante no país é inconfundível: as pessoas culpam o presidente Berisha pela falência dos chamados esquemas de "pirâmide" em que investiram seu dinheiro, e estão decididas a fazê-lo deixar o cargo.
Mas não está claro se Berisha pretende renunciar, embora tenha prometido fazê-lo no caso de seu partido, o Democrata, ser derrotado. Na quinta-feira, disse a vários repórteres: "Vou permanecer na política até o último momento. Jamais vou me retirar". Mas, se ele não renunciar, parece provável que a rebelião armada, que em março quase chegou a Tirana, seja retomada. "Se não o expulsarem com o voto, vão expulsá-lo com fuzis", disse Albert Shyti, candidato oposicionista em Vlorë.

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