São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997
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Sapatos que decidem

XICO SÁ

Nada define mais um homem do que o sapato que o conduz. É por aí que o autofoco do olhar das Kareninas inicia a sua trajetória, rumo ao amor à primeira vista ou ao desprezo incontinenti.
E não falamos de grife, insuperáveis bicos quadrados italianos, Ferri's, ou coisa do gênero. O que conta, nesse caso, é simples: a gazela gostar ou não do sapato.
Num piscar de olho, ela decide esse videogame sentimental. Foi Rita, sábia amiga do passado, a primeira a alertar este pusilânime que vos fala sobre o poder decisivo do sapato masculino.
Um calçado certo vale mais do que possuir as feições de um Marlon Brando (em "O Último Tango em Paris") ou saber de cor todos os volumes de "Em Busca do Tempo Perdido", de Marcel Proust.
Brando, aliás, narra, no filme acima, um fragmento autobiográfico sobre a importância dos sapatos. Ele estava de saída para um baile, com uns mocassins lustradíssimos. Seu pai, por inveja, ignorância ou birra, o obrigou a ordenhar umas vaquinhas.
MB, então, foi forçado a sair para festa com os sapatos manchados de esterco e, obviamente, sem o brilho original.
Homem que é homem pode até pisar no esterco, mas não esquece de dar um trato, uma meia-sola no seu "pisante" predileto. As pequenas sapatarias ainda resistem, no centro e nos bairros, como a singela Marconi.
Além disso, São Paulo também possui oficinas modernas, para os ditos "descolados", como a Sapatos e Manutenção, que vai do conserto à venda de graxas e escovas.
Não é preciso ter mais de três pares. É necessário cuidar bem do titular, o eleito para as grandes jornadas, os embates épicos, as escaladas em busca dos tesouros das "sierras madres" da vida.
Homem que é homem não usa isqueiro. Risca o fósforo no verniz do sapato para acender o cigarro da sua Gilda predileta.

ONDE ENCONTRAR Sapataria Marconi: av. São João, 1.236, centro. Sapatos em Manutenção: av. Rebouças, 2.728, Pinheiros, tel. 280.2885.

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