São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997
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Deixe a água rolar

MIRNA FEITOZA

Prender o choro provoca reações no organismo que podem levar até ao infarto
Diz o provérbio popular que "mulher chora à toa". Algumas, para não passar por "choronas", vivem segurando as lágrimas.
A experiência de conter o choro, além de deixar mágoas, pode provocar um estresse agudo, que libera uma reação de curto-circuito no corpo, atingindo o órgão que tiver menor resistência.
As psicólogas Susan M. Labott e Mary K. Teleha, da Universidade de Toledo, em Ohio (EUA), afirmam que chorar é bom, mas apenas para mulheres que choram facilmente.
Labott e Teleha mediram o nível de estresse físico de 50 mulheres enquanto assistiam um vídeo sobre uma família que vai visitar a avó em um asilo no Natal.
Metade das mulheres foram instruídas a não reprimirem o choro. A outra metade deveria segurar ao máximo as lágrimas. Antes e depois do filme, as mulheres tiveram de responder um questionário sobre seu temperamento, inclusive sobre quão frequentemente choram (os resultados variavam de 1 a 30 vezes por mês).
Apesar de todas as mulheres ficarem tristes enquanto assistiam ao filme, as psicólogas não notaram nenhuma diferença nos níveis de estresse emocional ou físico entre aquelas que choraram e as que não choraram.
No entanto, esses níveis aumentaram entre as mulheres "choronas" que tiveram de reprimir a emoção e entre as mulheres que não costumam chorar, mas que tiveram de forçar as lágrimas.
Segundo a psiquiatra Alexandrina Meleiro, do Hospital das Clínicas, pessoas predispostas a problemas cardíacos, por exemplo, podem até chegar ao infarto se tiverem de prender o choro. Prender o choro aumenta os níveis de adrenalina e a noradrenalina no organismo. "O aumento da adrenalima pode diminuir o diâmetro do vaso e levar a um infarto. No caso da noradrenalina, a tendência é levar a pessoa à depressão", afirma. A adrenalina e a noradrenalina são neurotransmissores que intermedeiam determinadas ações do organismo, tanto de órgão para órgão quanto de cada órgão para o cérebro.
Somatização A psicóloga de linha neo-reichiana Anna Lydia Janini Franco diz que reprimir o choro pode desencadear no organismo um processo de somatização, provocando sintomas como cefaléia e enxaqueca.
No entanto, se o choro é muito frequente, ela adverte que é bom procurar saber o motivo real. Segundo ela, pode se tratar de uma forma infantil de lidar com as situações que nos tocam no cotidiano. "Assim como não é legal colocar uma rolha, é importante ver o que mobiliza o choro", orienta.
A medicina chinesa também recomenda que não se deve prender o choro. Segundo a médica acupunturista Helena Campiglia, quando isso ocorre, "a energia fica estagnada", e a pessoa sente sintomas físicos, como dores-de-cabeça e cólicas.
Se o choro é frequente, a médica diz que pode se tratar de desequilíbrio energético do pulmão. "Nesse caso, é preciso tratar porque, na medicina chinesa, tudo que é em excesso deve ser eliminado", afirma.

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