São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 1997
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Domingo de terror

JUCA KFOURI

O domingo que prometia tanto começou mal.
Os amantes do boxe (entre os quais não me incluo) tiveram um exemplo cabal (melhor seria dizer canibal) de que a nobre arte nada tem nem de nobre nem de arte.
A selvageria chegou ao auge. Uma cabeçada involuntária (?!) -como na primeira luta- levou Mike Tyson à loucura. Um supercílio aberto foi o bastante para deixá-lo transtornado.
A primeira mordida fez tchan -e ele cuspiu um pedacinho da orelha de Evander Holyfield.
A segunda fez tchun, o bastante para que fosse eliminado da luta. Ficou apenas um gostinho de sangue, não aquele sangue grosso que faz a alegria dos apaixonados pelo boxe. Mas o que jorrava da orelha cortada do campeão mundial, digno final de mais uma "luta do século".
Era pouco mais de uma hora da madrugada e não seria nada fácil dormir logo para acordar 300 minutos depois e ver Brasil e Argentina no Mundial sub-20 da Malásia.
*
Pois o domingo continuou aterrorizante.
Fazia frio em São Paulo, e o jogo era gelado na Malásia. O Brasil de 20 gols em dois jogos sabia que a Argentina era a Argentina e respeitava o tradicional rival. Respeitava e era respeitado.
Jogava melhor, criava mais chances de gol mas, ao contrário do que ocorrera contra a Coréia do Sul e contra a Bélgica, a bola não entrava.
Daqueles jogos que à medida que correm dão a sensação de que o adversário acabará acertando um ataque e consumará uma aparente injustiça. Não deu outra.
Faltando dez minutos para o jogo acabar, foi a vez da Argentina fazer tchan, num gol de rara felicidade.
Dez minutos depois, fez tchun e despachou o Brasil de volta para casa. A seleção dez-dez estava inapelavelmente derrotada.
Que ninguém, porém, encha as orelhas dos garotos.
Afinal, eles entraram para a história, embora tenham sido as novas vítimas dos mistérios do futebol.
Porque há dias em que tudo dá certo -e eles viveram dois desses dias seguidos.
E há outros em que seria melhor nem levantar da cama. Como ontem.
*
É, o domingo já está acabando e o jogo entre Bolívia e Brasil está prestes a começar. Uma ligeira tontura toma conta do colunista. O que será?

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