São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 1997
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Echo viaja no túnel do tempo

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Me diga como é/ Como é tocar a chama/ Me diga quem eu sou/ Quem eu sou de verdade/ Qual meu nome?"
São versos de "Don't Let It Get You Down", que abre o álbum "Evergreen", o novo do Echo & the Bunnymen.
Os Bunnymen, você sabe, foram uma das bandas mais importantes da pós-new wave inglesa. Em álbuns como "Crocodile" e "Heaven Up Here", definiram o som angustiado, neuroticamente grandioso, do rock dos anos 80.
No Brasil, sessões do vídeo "Porcupine" juntavam legiões de fanáticos no Carbono 14, extinta casa noturna de São Paulo. Os mais alucinados choravam quando tocava a música "All My Colours".
A banda chegou a se apresentar no Brasil, já meio decadente, em shows com muitos teclados e poucas guitarras.
Depois que o baterista Pete DeFreitas se matou num acidente com sua moto Ducati 900, McCulloch arriscou carreira solo, a banda arrumou um vocalista horrível e tentou manter o nome Echo & the Bunnymen. Mas nada disso deu certo.
A formação original, menos DeFreitas, gravou agora "Evergreen".
E como é o Echo & the Bunnymen de 1997?
Basicamente, igual ao de 1982.
As letras de McCulloch continuam existencialistas. Os arranjos ainda têm um pé no orquestral. As melodias se mantém perfeitas.
E não se pode negar mérito a um grupo veterano que continua a compor, em vez de pilhar o próprio passado e se manter vivo às custas de repetições intermináveis de velhas canções.
No universo torturado de Ian McCulloch, tudo passa rápido demais. Seus personagens estão sempre arrependidos, tentando se redimir. E têm pouco tempo para isso.
Mas quem ainda se interessa? Quem quer saber?
Tenho ouvido muito dois CDs: este "Evergreen" e "Dig Your Own Hole", dos Chemical Brothers. É quase inacreditável que ambos tenham sido lançados no mesmo ano. Uma vala secular parece separá-los.
"Evergreen" traz poesia elaborada e fórmulas de composição (verso/refrão/verso). Já os Chemical Brothers desprezam significados e fazem sua música a partir dos estilhaços de uma terra arrasada -o mundo pop.
Um é absurdamente belo. O outro é absurdamente moderno. Como universos paralelos, como mundos em colisão.
Escolha o seu.

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