São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 1997
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HONG KONG

A devolução, à zero hora de amanhã, de Hong Kong à China é um retrato das alterações da metade final deste século. De um lado, extingue-se mais uma das colônias do eclipsado Império Britânico, onde o sol nunca se punha. De outro, o principal encrave capitalista do sul da Ásia volta à China, país que se declara comunista, embora tenha permitido que determinadas regiões do país recorram a métodos capitalistas para incrementar sua economia. Verificam-se assim a um só tempo os estertores do colonialismo e o ocaso da economia de planificação estatal.
A China comunista readquire seu porto mais opulento. Ou, de outro ponto de vista, o regime capitalista implantado em Hong Kong consolida-se na China continental. São fenômenos muito diferentes que, no entanto, coincidem na consolidação de uma nova potência econômica.
A reaquisição de Hong Kong também fortalece politicamente a China no cenário internacional. Embora o país já gozasse desse estatuto oficial, pelo menos como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, isso, até recentemente, se devia principalmente aos resultados da Segunda Guerra Mundial.
Sendo hoje a economia que mais cresce no mundo e contabilizando a maior população do planeta, a China tenta firmar-se como grande potência, a ponto de os principais países do mundo, de olho neste grande mercado, fazerem vistas grossas ao chamado "dumping social", à política ambiental nociva e à notória violação de direitos humanos.
Apesar de o governo chinês ter indicado que manterá a autonomia de Hong Kong para não interferir em sua economia, é mais do que remota a possibilidade de que se firme a recente democratização da ex-colônia.
Trata-se, enfim, de mais um retrato dos tempos: os belos princípios democráticos apregoados por nações como os EUA vão até onde as conveniências comerciais falam mais alto.

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