São Paulo, terça-feira, 1 de julho de 1997
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Velho Lobo, uma relação de amor e ódio

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

Meus amigos, meus inimigos, a vitória sobre a seleção da Bolívia, em condições excepcionais graças à altitude de La Paz, foi, sobretudo, uma vitória da combinação entre a concentrada determinação em vencer e a categoria desse elenco formidável de jogadores que a seleção brasileira consegue ter à sua disposição.
Ronaldinho, eleito em todas as pesquisas como o grande jogador da temporada européia que terminou há pouco, mas que não esteve à altura da expectativa nos dois torneios disputados pela seleção brasileira, não negaceou fogo na hora decisiva de mostrar que é artilheiro: um chute forte e calibrado decidiu o torneio.
O jogo adquiriu uma atmosfera dramática: além das dificuldades físicas dos jogadores, a falha do Taffarel em uma hora decisiva, a sequência de bolas na trave chutadas pelos bolivianos, no segundo tempo, eram maus presságios que terminaram não confirmados.
Mas, a vitória sobre a Bolívia, nas condições dadas, foi maior do que a Copa América conquistada.
O tal do recorde conquistado (ganhar a Copa América pela primeira vez fora de casa) é tão artificial que até precisa ser explicado.
A própria Copa América é um torneio menor, que se desgasta pela quantidade de vezes em que é, desnecessariamente, disputado (dois em dois anos).
O ideal seria a disputa continental de quatro em quatro anos, intermediando as Copas do Mundo, como ocorre com o Europeu de seleções.
Além disso, do ponto de vista técnico, essa Copa América boliviana foi um torneio sem nenhuma relevância.
Também não se tratou, para a seleção brasileira, de um torneio inútil. Esse mês de trabalho foi importante porque, a um ano da Copa do Mundo, a seleção brasileira precisa entrar no ritmo de competição -ritmo que as demais equipes que estão disputando as eliminatórias já encontraram.
Houve uma evolução clara da seleção brasileira do Torneio da França para a Copa América. Esse crédito precisa ser dado ao velho Lobo do fut.
Mas essa evolução precisa ser testada justamente contra os tops de linha do futebol internacional, para que as conclusões sejam mais consistentes.
Os problemas mais graves enfrentados pelo 11 canarinho (a: dificuldade de criação em sistemas de marcação forte e b: dificuldade de marcação quando joga contra a rápida troca de posicionamento de atacantes) não se encontram na escola sul-americana.
O núcleo central de jogadores está definido. Parece que vamos com Taffarel, mas também já fomos com Félix, o Papel, e Waldir Perez, bons goleiros, mas não os melhores.
É difícil acreditar que a dupla de zagueiros será Gonçalves e Aldair, mas há tempo para mudar. Flávio Conceição, o garoto Denílson e Leonardo parecem nomes certos.
Zagallo é jurássico no conceito e na estratégia, mas compensa com a liderança e a astúcia como técnico de campo (liderou os jogadores e substituiu muito bem no domingo).
Tem fama de ganhador, mas, nessa fase de técnico, entre outras coisas, perdeu uma Copa América e uma Olimpíada.
Sua relação de amor e ódio com a imprensa é interessante.

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