São Paulo, terça-feira, 1 de julho de 1997
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Festival de violão traz Nigel North

IRINEU FRANCO PERPÉTUO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O alaudista inglês Nigel North é a principal estrela internacional do Festival Sesc Internacional de Violão, que acontece de 1º a 11 de julho no Sesc Consolação.
A abertura está marcada para hoje, às 21h, com o norte-americano Ralph Towner, um jazzista que já tocou com Keith Jarrett e Egberto Gismonti.
Amanhã, é a vez do também americano Scott Tenant, do Quarteto de Los Angeles. O uruguaio Abel Carlevaro toca na quinta-feira, Nigel North, na sexta, com apresentações, no fim-de-semana, de destacados nomes da música popular brasileira: Baden Powell, no sábado, e Egberto Gismonti, no domingo.
Nigel North tem carreira importante como professor, acompanhador de cantores, solista e membro de grupo instrumental.
Como solista, ele é especialista no violão histórico (alaúde, guitarra barroca e tiorba). Está gravando, pelo selo francês Arcana, a integral das obras para alaúde do compositor renascentista inglês John Dowland.
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Folha - Como você chegou ao alaúde?
Nigel North - Comecei meu aprendizado musical pelo violino, passando para a guitarra elétrica. De tanto tocar versões para violão de obras originalmente feitas para alaúde, aproximei-me do instrumento, aos 15 anos.
Folha - Que instrumentos você está trazendo ao Brasil?
North - A cópia de uma guitarra barroca do século 17 e a cópia de um alaúde alemão do século 18.
A guitarra barroca tem cinco ordens de cordas e é menor que a moderna. Já o alaúde tem 13 ordens de cordas, requerendo outra técnica e afinação.
Folha - Afinação é um dos maiores problemas nos concertos com instrumentos de época. Como resolvê-lo?
North - A afinação não tem que ser uma coisa problemática. Embora, nas minhas gravações, use cordas de tripa, nos concertos prefiro as cordas modernas, de náilon. Do contrário, eu ficaria mais tempo afinando que tocando.
Folha - E o problema do volume? O público pode ter medo de não ouvir muito do que você estiver tocando.
North - Cada instrumento tem seu lugar no mundo. O violão e o alaúde, certamente, não soam como uma orquestra. Porém com um bom instrumento e uma boa acústica dá para projetar bastante o som. Além disso, com uma boa amplificação, é possível criar um ambiente de bastante intimidade.
Folha - Que tipo de escolhas o intérprete de música antiga tem de fazer para tentar recriar a música como ela era há 400 anos?
North - Igual nunca vai ser, porque nós não sabemos como era há 400 anos. Por isso, acho que não há uma só maneira de tocar esse repertório. É fundamental buscar um instrumento construído da maneira mais próxima possível da época, utilizar fontes originais -e não edições modernas das partituras- e colocar o instinto para funcionar, já que não se sabe muito, infelizmente, sobre a técnica dos alaudistas daqueles tempos.
Há que se considerar, contudo, que nós vivenciamos o mundo de maneira diferente. Há 400 anos, essa nossa conversa não seria possível. Naquela época, quando as pessoas se reuniam para escutar música, elas esperavam por uma experiência realmente especial.
Hoje a música se banalizou -está nos táxis, nos elevadores, e é muito difícil, em um concerto, recriar o clima de magia daqueles tempos.
Folha - A música se vulgarizou?
North - Sem dúvida. Em um concerto, demora bastante para que a gente consiga criar um ambiente mágico. Esforço-me para fazer daquele momento algo especial. Minha intenção é que as pessoas façam de conta que estão ouvindo música pela primeira vez. Esta é a minha função.

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