São Paulo, terça-feira, 1 de julho de 1997
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'Eu Sou a Revolução' traz lucidez de louco

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DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Monólogo dirigido e adaptado por Mario Piacentini a partir de texto de Peter Weiss estréia hoje no teatro Hall

Um Marat, um Marquês de Sade, um Napoleão, uma Charlotte Corday, um Arauto e um Paciente juntos conflagram o espetáculo "Eu Sou a Revolução", um monólogo, com todos esses personagens interpretados por Roberto Lobo, que estréia hoje no teatro Hall, em São Paulo.
Na verdade é o Paciente que assume a cada momento uma das personalidades listadas acima. "E, aos poucos, o Paciente vai perdendo espaço para os personagens", disse Lobo, 32.
A intenção, segundo ele, não foi interpretar um louco "cientificamente correto".
"Louco é a pessoa de comportamento livre. Então nós temos liberdade de fazer o que quisermos com ele" , disse Lobo.
"O louco pode ser qualquer um", completou o autor e diretor Mario Piacentini, 53.
A morte é a chave Segundo Lobo e Piacentini, uma frase do texto sintetiza todo o espetáculo: "A morte é a chave da revolução".
"Para transformar algo é necessário matar o que já existe", explicou o ator.
"Lidamos o tempo todo com a questão da morte e das transformações", disse Piacentini.
Enquanto Marat e Sade são os personagens pró-revolução -Marat na revolução externa, política, um Tiradentes, e Sade, na interna, erótica-, Napoleão é o reacionário, o status quo.
Esses são os três principais personagens/arquétipos da peça. Charlotte Corday aparece apenas em uma cena, em que ela mata Marat com uma facada em sua banheira -como realmente aconteceu.
O Arauto serve de fio condutor do espetáculo, fornecendo informações ao público.
E o Paciente, para Lobo e Piacentini, pode ser uma pessoa comum ou um esquizofrênico com várias personalidades, "que ele usa para se defender do mundo, do público, das suas dores", disse Lobo.
"Como Paciente, ele reage, enquanto como os personagens, ele age", explicou.
Poesia Totalmente escrito em versos por Piacentini, um dos fundadores do Tuca em 1965, o texto foi inspirado em "Perseguição e assassinato de Jean-Paul Marat segundo os internos de um Hospício de Charenton, dirigidos pelo Marquês de Sade", de Peter Weiss, e em obras do próprio Marquês de Sade.
"O texto de Weiss é todo rimado e quis manter isso porque acrescenta certa graça à loucura e certa loucura ao texto. Além disso, dá o tom clássico que o público não está acostumado", afirmou o autor e diretor.
Inicialmente planejado para ser um ópera com superprodução, o projeto foi abandonado em 89.
Foi retomado despretensiosamente no final do ano passado, quando começou a ser adaptado para apenas um ator.
"Este é um projeto humilde de nascimento, mas artisticamente pretensioso", disse Lobo.
O ator alterna os personagens por meio de interpretação, mudanças de figurino em cena e alteração na voz durante os 60 minutos de "Eu sou a Revolução".

Peça: Eu Sou a Revolução
Autoria e direção: Mario Piacentini
Com: Roberto Lobo
Quando: estréia hoje, às 21h; terças e quartas, às 21h; até 30 de julho
Onde: teatro Hall (r. Rui Barbosa, 672, Bela Vista, região central da cidade, tel. 284-0290)
Quanto: R$ 10

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