São Paulo, terça-feira, 1 de julho de 1997
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Gary Hill procura uma criança brasileira

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

O artista multimídia norte-americano Gary Hill, 46, procura uma criança brasileira, com idade entre 7 e 8 anos, que saiba ler, mas que ainda cometa pequenos erros na leitura.
A idéia de Hill é colocar a criança para ler um texto do filósofo Ludwig Wittgenstein (1889-1951) e fazer um vídeo mostrando a leitura. O texto já está escolhido: uma versão em português de "Remarks on Colour", publicado pela primeira vez em 1978.
"Já fiz essa experiência e gostaria de fazê-la outra vez com uma criança lendo o texto em português", disse Hill, que chegou ao Rio na quinta-feira para terminar a montagem da exposição "O Lugar do Outro/Where the Other Takes Place".
A exposição será aberta amanhã no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil). Nela, Hill vai apresentar quatro vídeo-instalações criadas a partir de 1990. O vídeo brasileiro é a novidade que Hill, ganhador do Leão de Ouro da bienal de Veneza de 1995, pretende apresentar ao público de São Paulo.
Leia abaixo trechos de sua entrevista à Folha.
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Folha - Esta é a primeira vez que o sr. apresenta uma exposição individual no Brasil. Como foi feita a seleção dos trabalhos que serão mostrados no país?
Gary Hill - É a primeira vez que venho à América do Sul. Para essa exposição, houve alguns critérios. Um é o espaço. Outro, a questão logística, porque esses trabalhos precisam de uma infra-estrutura para funcionar. São muitos equipamentos, há problemas de som, fios etc. Depois, passei a conversar com algumas pessoas para decidir o que trazer.
Folha - A interatividade é aspecto fundamental no seu trabalho?
Hill - Muitos de meus trabalhos têm esse aspecto, mas algumas vezes as pessoas falam em interatividade referindo-se à interatividade eletrônica. Claro que já fiz trabalhos ativados pelo espectador. Meu objetivo é que o espectador se envolva nas questões relativas ao trabalho e não fique olhando apenas para uma imagem.
Folha - Como são suas experiências com a Internet?
Hill - Converso com amigos, converso com estranhos, mas não a uso como um meio de fazer arte.
Folha - O sr. acha que isso é impossível?
Hill - Acho que é possível, mas não fico pulando para a próxima alternativa tecnológica que surge. Eu uso muita tecnologia sofisticada, especial para o meu trabalho. Mas, no final, o que procuro é uma fissura nessa tecnologia, porque essa é a única coisa que pode mostrar a falibilidade da espécie humana. Se você quer permanecer humano e continuar a se sentir vivo, você tem que experimentar isso. O homem precisa quebrar a tecnologia em si mesmo.
Folha - O sr. chegou a trabalhar com TV. Como foi a experiência?
Hill - A primeira experiência foi ser contratado pelo canal 13 de Nova York para fazer um vídeo.
Fiz um trabalho chamado "Soundings". O vídeo mostrava um alto-falante sendo queimado, depois eu o enchia de água, fazia buracos, aumentava o volume e, enquanto fazia tudo isso, eu falava por ele. Eles acabaram não o exibindo, e essa foi a primeira "não-experiência" com a TV.
A segunda também foi no canal 13, que exibiu um vídeo chamado "Ura Aru". Em Nova York, às 23h, comecei a olhar a TV e a pensar que ninguém poderia estar querendo assistir àquilo naquela hora da noite.
Depois soube que 100 mil pessoas estavam ligadas naquela emissora naquela hora, o que me deu uma sensação muito estranha. Não há uma comunidade, você não sabe quem está vendo seu trabalho.

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