São Paulo, terça-feira, 1 de julho de 1997
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China recupera Hong Kong depois de 156 anos e se livra do colonialismo britânico

JAIME SPITZCOVSKY; GILSON SCHWARTZ
ENVIADOS ESPECIAIS A HONG KONG

Hong Kong voltou ao controle da China à 0h de hoje (13h de ontem em Brasília), depois de 156 anos de domínio britânico. Uma cerimônia com troca de bandeiras, com discursos do príncipe Charles e do presidente chinês, Jiang Zemin, marcou a passagem.
O Reino Unido se despediu de sua última colônia importante, e a China do Partido Comunista passa a controlar um dos principais pólos do capitalismo asiático.
A China recupera Hong Kong sob a fórmula "um país, dois sistemas", idealizada pelo dirigente comunista chinês Deng Xiaoping (1904-1997). O território poderá manter, nos próximos 50 anos, seu sistema capitalista e um alto grau de autonomia administrativa.
Mais de 4.000 soldados chineses entraram em Hong Kong seis horas depois do fim do domínio britânico. Segundo a fórmula "um país, dois sistemas", Pequim responde pela defesa e política externa do território, que passa a se chamar Região Administrativa Especial de Hong Kong.
O empresário Tung Chee-hwa, 60, assumiu o cargo de primeiro governador de Hong Kong na era do pós-colonialismo. Ele foi escolhido, em dezembro, por um colégio eleitoral montado por Pequim.
Também começou a trabalhar o Conselho Legislativo provisório, uma Assembléia formada pela China e que exclui representantes de grupos pró-democracia.
O príncipe Charles deixou Hong Kong após a cerimônia oficial a bordo do iate real Britannia. Viajava com Chris Patten, o último governador colonial do território.
"Renunciei à administração desse governo. Deus salve a rainha", escreveu Patten em telegrama enviado a Londres à 0h.
Na cerimônia de transição, o príncipe Charles discursou para uma platéia de mais de 4.000 convidados, entre chineses e estrangeiros, reunidos no Centro de Convenções e Exposições.
Após o discurso de Charles, a bandeira britânica e da colônia de Hong Kong foram arriadas. Deram lugar à bandeira da China e à nova bandeira do território.
Em seu discurso, Jiang Zemin, o primeiro presidente chinês a pisar em Hong Kong, repetiu a promessa de respeitar a democracia do território. Mas o Partido Comunista já declarou que não vai permitir que Hong Kong se torne uma "base de subversão" que ameace o atual regime chinês.
Ativistas pró-democracia acusam a China de limitar liberdades civis em Hong Kong. A demonstração de força de Pequim, ao enviar milhares de soldados já no primeiro dia do novo governo, também provoca incertezas quanto ao futuro da democracia na "mais ocidental das cidades asiáticas".
Depois da devolução, a bandeira da China foi hasteada nas bases militares e em locais públicos.
As cerimônias oficiais da despedida britânica começaram à tarde, quando Chris Patten deixou sua residência oficial. Às 18h15, o príncipe Charles e Patten compareceram a uma festa realizada sob chuva na região do porto Victoria.
Cerca de 10 mil pessoas assistiram a show de dança, apresentação musical e desfile militar. O príncipe Charles leu mensagem de sua mãe, a rainha Elizabeth 2ª, na qual ela dizia que o futuro de Hong Kong depende da implantação dos acordos assinados entre Londres e Pequim em 1984. Terminada a festa, um show pirotécnico iluminou o céu sobre o porto Victoria.

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