São Paulo, terça-feira, 1 de julho de 1997 |
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Rumos de Hong Kong influem na política interna americana
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
Gephardt, 56, está tentando se diferenciar de Gore em tudo o que pode. No topo da lista, a China. Embora seja o líder do partido do governo na Câmara, ele votou contra (e com muito barulho) a renovação na semana passada do status da China como "nação mais favorecida" no comércio com os EUA, pela qual a administração lutou com todas as armas. Os argumentos de Gephardt, que lidera a "ala esquerda" dos democratas, o aproximam, nesse assunto, com a extrema direita do Partido Republicano, conservador, de oposição. Só o jornalista Pat Buchanan, que tentou sem sucesso duas vezes ser o candidato presidencial republicano com uma plataforma arqui-reacionária, se compara a Gephardt em termos de furor na retórica antichinesa. Por não respeitar os direitos humanos, por proteger seus produtos no mercado doméstico, por provocar um rombo de US$ 3,45 bilhões mensais (segundo os últimos números) na balança comercial norte-americana, por ser a última potência militar comunista, a China não merece favores e, ao contrário, deve ser tratada como inimiga, no discurso de Gephardt. Esse tipo de raciocínio cai bem entre nacionalistas. Enquanto a economia vai bem, a repercussão é limitada. Mas bastará o desemprego começar a crescer e a platéia para esse tipo de oratória xenófoba vai crescer bastante. Numa época em que todos os candidatos presidenciais parecem um só, Gephardt aposta em tudo para se distinguir. Para sua sorte, Gore tem problemas específicos em relação à China, por causa das implicações do caso Asiagate, que envolve contribuições suspeitas de ilegalidade feitas por empresas e cidadãos de diversos países, inclusive chineses, à reeleição da chapa Clinton-Gore. Gore e Gephardt são velhos adversários. Os dois chegaram à Câmara juntos em 1976, na onda do escândalo de Watergate. Jovens (Gore, com 28 anos; Gephardt com 35), mas com origens muito diversas: Gore é filho de um poderoso senador que quase foi candidato à Vice-Presidência com John Kennedy. Gephardt é homem que se fez sozinho, ligado ao tradicional movimento sindicalista. Em 1988, os dois se defrontaram pela candidatura democrata à Presidência. Nenhum dos dois venceu (o então governador de Massachusetts, Michael Dukakis, foi o escolhido). Mas Gore, já senador pelo Tennessee, se deu melhor que Gephardt, ainda deputado pelo Missouri: teve 13,7% dos votos nas primárias do partido contra 6%. O ano que vem é decisivo para as pretensões de Gephardt. Se os democratas reconquistarem a maioria na Câmara (e Clinton vai fazer o possível para que isso ocorra, de modo a poder governar para a história nos últimos dois anos de seu governo), Gephardt vai ser presidente da casa, terceiro cargo mais importante na hierarquia da República. Nessa posição, terá mais visibilidade do que jamais teve e mais chances de bater Gore. Texto Anterior: Britânicos não sabem o que fazer se acordo for descumprido Próximo Texto: À espera da reintegração com a China, Macau quer evitar clima de confrontação Índice |
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