São Paulo, terça-feira, 1 de julho de 1997
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Macau fica atento à transição

VASCO ROCHA VIEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A transferência de Hong Kong para a República Popular da China -um processo sem precedentes de transmissão negociada de poderes num território- é um acontecimento de grande relevância regional e internacional, que encaro com uma expectativa positiva.
A Região Administrativa Especial de Hong Kong da República Popular da China, que nasce hoje, terá como característica fundamental a sua inserção num contexto geopolítico inovador: o da aplicação da fórmula "um país, dois sistemas".
Naturalmente a experiência de transferência em Hong Kong é olhada com grande curiosidade e expectativa, não apenas na região, mas em todo o mundo, e o seu êxito constituirá uma referência positiva e um importante fator de confiança para o processo de transição em Macau, território sob administração de Portugal até 20 de dezembro de 1999, quando se transformará, ele próprio, numa Região Administrativa Especial da China, conforme foi acordado pelos dois países em 1987.
Estou convencido de que a transferência de Hong Kong irá correr bem, para tanto sendo determinante a existência de uma continuidade, por meio da qual o território mantenha as suas atuais características, como são exemplos a sua forte economia de mercado e os seus sistemas político e judiciário próprios, e em que os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos continuem a ser respeitados.
É do interesse da República Popular da China garantir o êxito do modelo de Hong Kong depois de hoje, como forma de assegurar a permanência efetiva do segundo sistema, tal como ele hoje existe. Isso conduzirá ao aprofundamento do diálogo e da cooperação com a China, a uma maior aproximação da comunidade internacional a essa região e a um melhor entendimento da sua realidade.
Hong Kong e Macau, territórios vizinhos, mas com características diferentes, muitas vezes marcadas pela sua complementaridade, estão no centro de uma região -o sul da China- de grande dinamismo social e econômico, onde se registram as maiores taxas de crescimento no mundo, sendo importantes parceiros ativos nesse desenvolvimento.
Os dois territórios mantêm entre si boas relações de cooperação que, estou certo, irão ser mantidas e aprofundadas, em benefício mútuo.
Com a sua identidade própria, resultante da simbiose de povos e culturas que nele se cruzaram ao longo de mais de quatro séculos, o território de Macau tem tirado partido da sua crescente internacionalização, que lhe conferiu já um estatuto especial nas ligações com a China.
Claro está que será também no interesse da China que Macau, após a transferência de administração, em 20 de dezembro de 1999, mantenha as suas atuais características e continue a desempenhar, no futuro, o seu importante papel de plataforma regional, cuja potenciação Portugal tem vindo a promover como política consistente e de longo prazo, confiante no seu pleno êxito.

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